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Há quem deteste a liberdade, há quem dela abuse, outros
acreditam que só a sua própria é a verdadeira e, se não for a bem será a mal,
sentem-se no direito de impô-la aos demais.
Vivo na Holanda há quase sessenta anos, sempre em
Amsterdam, e a ambos, o país e a cidade, sinto que pertenço, acato as suas
leis, respeito os costumes, admiro as garantias que a todos são dadas para uma
vida digna.
Nada me impede a crítica, e ricos, poderosos, humildes,
brancos, pretos, amarelos, corcundas atletas, homens, mulheres, hermafroditas ou
transgéneros, de todos me sinto igual, a todos respeito.
Na cidade somos oitocentos mil, mais de metade
estrangeiros, vindos dos quatro cantos do mundo e nascidos em cento e setenta e
oito países diferentes. Marroquinos são uns setenta mil, os turcos cinquenta
mil.
Não data da semana passada, vem de longe, vinte anos ou
mais. O desequilíbrio. O medo. O avanço das comunidades islâmicas, as
imposições que conseguem fazer, aproveitando a lei, mas aproveitando também a
cobardia de quem manda.
A tensão aumenta, e se bairros como Slotervaart e Osdorp,
onde domina a comunidade muçulmana, se podem considerar luxuosos se comparados às
banlieues parisienses, o ambiente
pouco difere. Os incidentes raciais no centro estão a ser diários: ora é um
jovem muçulmano que ameaça de pistola, ora um holandês que cospe na cara de uma
mulher vestida de burka, um grupo de
marroquinos que terroriza os passageiros num eléctrico, holandeses que colam
nas janelas os cartazes do PVV, o partido de Wilders que quer a extradição dos
marroquinos criminosos ou ilegais.
A semana passada, num discurso que fez no seguimento dos
assassinatos em Paris, o burgomestre de Rotterdam, Achmed Aboutaleb (marroquino
de nascença) disse alto e bom som o mesmo que Wilders: "Para quem não
respeita a lei, só há um caminho, é ir embora."
Vale a pena olhar a fotografia acima, porque representa
um espírito libertário que, temo eu, irá desaparecer numa cidade e num país que
tão livres se querem.
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© Martin Alberts
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© Martin Alberts