Sedentário por
temperamento e incapaz de, à maneira de Eça de Queirós escrever em pé, quase
tudo o que implica esforço físico desperta em mim uma sensação de desagrado,
como se o mexer-me seja esforço demais ou exija qualidades que não possuo.
É assim curioso ser
George um dos meus bons amigos, pois além de ter metade dos anos que conto, é
fanático no que respeita provas de capacidade muscular, sempre pronto para
desafios que exijam o máximo do seu corpo. Além disso, teimoso por natureza,
basta alguém pôr em dúvida o esforço de que se diz capaz, para que ele de
imediato meta mãos à obra a provar o contrário.
Durante uma
conversa sobre nada coisa nenhuma, o Daniel perguntou se algum de nós tinha ouvido falar da
Marathon des Sables. Vendo-nos a abanar a cabeça que não, explicou ele
que é única entre as competições mais duras do mundo inteiro, pois exige uma
resistência e esforços que, sem exagero, se podem chamar sobrehumanos. Nada
menos do que, em etapas de vinte e um a oitenta e cinco, correr um percurso de
duzentos e cinquenta e quatro quilómetros até à meta. Suportando temperaturas
que chegam aos quarenta graus, subindo dunas com vinte e cinco porcento de
inclinação.
Já estávamos de
boca aberta, mas o Daniel acrescentou que cada participante tem de levar tudo o
que necessita de equipamento, comida bastante, e até produtos que o protejam
das picadelas de serpentes e escorpiões. Ninguém conte com assistência ou
auxílio, a organização apenas garante que não lhes falte a água.
Quando terminou, e
como era de esperar da idade dos que ali estávamos, abanámos a cabeça,
descrentes que houvesse gente para tal aventura. Mas há, e assim viemos a saber
que o nosso George uma vez participou, mas mesmo ele não tenciona repetir.