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Está fora de si. De madrugada conseguiu dormir uma horita,
mas logo se ergueu, a andar para lá, para cá, hesitando se telefona ou vai
escrever. Carta, claro, nada de e-mails.
Duas vezes teve a honra de lhe apertar a mão, e uma tarde em
Bragança – o Professor tinha acabado uma aula no IPB – fez-se uma roda de
admiradores e ele ficara um bocado a ouvi-lo, foi quando lhe disse que gostava
muito das suas ideias e raro perdia a oportunidade de vê-lo na televisão.
Está decidido. Vai-lhe escrever, recordando o encontro, a
simpatia, informá-lo de que lhe deu o seu voto, que se sente feliz com a
extraordinária vitória. Extraordinária e retumbante. Anota num papel, não vá
esquecer: extraordinária e retumbante. Talvez as escreva em maiúsculas. Cinquenta
e dois porcento. Nunca visto. Excelência? Excelentíssimo Senhor Presidente da
República? Caro Professor Marcelo é mais simpático, familiar, só que talvez
pareça um bocadinho… Mas que lhe vai escrever vai, assegurando que está indefectivelmente à disposição, e tem muito
presente as boas palavras que lhe mereceu em Bragança.
Numa segunda carta falará da Alzira. A rapariga não
consegue emprego, mas tem uma licenciatura em "Animação e Produção Artística",
e em Belém há festas,
eventos, recepções…
" Excelentíssimo Senhor Presidente da
República,"
Olha as palavras que acabou de escrever e sorri. Esperará
uma semana, talvez duas, o que ainda não decidiu é se lha manda pelo correio ou
vai a Lisboa entregá-la em mãos.