domingo, janeiro 31

Buddy Bolden


De Buddy Bolden (1877-1931) nunca tinha ouvido falar, e cheguei a ele pela mão do Vítor.
Comprei o livro, li-o numa noite, e talvez seja ou não "the finest jazz novel ever written", verdade é que me impressionou. Li nele daquelas páginas que emocionam, outras que me deixaram a perguntar qual será o mistério que por vezes arrasta a sensibilidade e o talento para a loucura.
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sábado, janeiro 30

Como será no Inferno?

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Talvez no Inferno seja pior, mas este almoço, dá vontade de morrer. Servem-no num lar de idosos em Nuremberg: puré de batata, carne triturada, puré de laranja, sumo de laranja, duas fatias de pão. 

sexta-feira, janeiro 29

Como na selva

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Na selva, como na política, por vezes são só dois os partidos que contam. Na aparência mordem-se, mas comem e bebem, sempre à farta, fingindo que é à vez.

quinta-feira, janeiro 28

Será? E se for? Interessa?

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Neste nosso mundo em que tudo se fabrica, até a verdade, de nada adianta andar de pé atrás, como se aprende aqui.

A gaja dos orgasmos (2)

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Quando é de nascença, nada a fazer, e consultar o psiquiatra nem sempre resulta, pois quem sofre da compulsão de se mostrar, de à viva força exigir ser visto, ouvido, admirado, não somente irá aos extremos, mas sem vergonha e alegremente os ultrapassará.
Pensando nisso, e porque há dias me vi confrontado com uma penível exibição, foi repescar um texto velho de dez anos. 

São memórias que ficam. Gargalhavam, a sufocar do riso. Então um levava a mão à braguilha, fazia o gesto de sacudir o que devia ter parecenças com tromba de elefante, e dizia à roda:
- Disto é que ela quer!
Adolescente romântico e testemunha involuntária, perturbava-me tanto a grosseria como a demonstração tola do desejo impotente.
Outra memória. Edith Piaff. Metro e meio de gente, umas poucas arrobas de pele e osso, grande voz. Ouvi-a cantar, na antiguidade em que Charles Aznavour era o seu pianista. Cama para aqui, légionnaire para ali, mon homme assim e mon homme assado, chansons de fodas de dois dias e três noites. Passada a novidade aquilo tornava-se cansativo, e a voz não bastava para fazer esquecer a discrepância entre a aparência frêle e os urros da luxúria.
Agora é ele que telefona, excitado, a perguntar se já li “a gaja dos orgasmos”. Uma que toda a gente conhece. Quase grita a contar que ela diz que ao ler certos livros tem orgasmos secretos, proibidos!....

Oiço e calo. De facto é isso: nem casto, nem virtuoso, e todavia continua a tomar-me um certo acanhamento perante a imposição do erotismo alheio.

quarta-feira, janeiro 27

Sortudos?

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São sortudos. Conjunção do nascimento, meio, escola, carácter, cabeça e olhos, entram na vida com o pé direito. Não que daí lhes venha proveito ou conforto, pé direito pela capacidade que ganham de destrinçar na sociedade as linhas tortas e as redes emaranhadas que nela se cruzam, entortam, rebelam, contrariam, e por vezes, em guerra ou sem ela, ameaçam destruí-la.
Podem ser artistas, escritores, cientistas, matemáticos, cirurgiões, homens de ciência, pouco importa o mester: o que têm em comum, embora os não una, é serem sortudos e ao mesmo tempo infelizes. Calha-lhes a vantagem de ver e saber, mas também o desgosto de poderem sempre tão pouco, por vezes nada.

terça-feira, janeiro 26

Na morte de um amigo

Alexander Pope (1688-1744)
 
"How often are we to die before we go quite off this stage? In every friend we lose a parte of ourselves, and the best part."

 in Carta de Alexander Pope para Joanathan Swift, 5 de Dezembro de 1732.
 

segunda-feira, janeiro 25

"Conheço-o! Uma vez falámos!"

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Está fora de si. De madrugada conseguiu dormir uma horita, mas logo se ergueu, a andar para lá, para cá, hesitando se telefona ou vai escrever. Carta, claro, nada de e-mails.
Duas vezes teve a honra de lhe apertar a mão, e uma tarde em Bragança – o Professor tinha acabado uma aula no IPB – fez-se uma roda de admiradores e ele ficara um bocado a ouvi-lo, foi quando lhe disse que gostava muito das suas ideias e raro perdia a oportunidade de vê-lo na televisão.
Está decidido. Vai-lhe escrever, recordando o encontro, a simpatia, informá-lo de que lhe deu o seu voto, que se sente feliz com a extraordinária vitória. Extraordinária e retumbante. Anota num papel, não vá esquecer: extraordinária e retumbante. Talvez as escreva em maiúsculas. Cinquenta e dois porcento. Nunca visto. Excelência? Excelentíssimo Senhor Presidente da República? Caro Professor Marcelo é mais simpático, familiar, só que talvez pareça um bocadinho… Mas que lhe vai escrever vai, assegurando que está  indefectivelmente à disposição, e tem muito presente as boas palavras que lhe mereceu em Bragança.
Numa segunda carta falará da Alzira. A rapariga não consegue emprego, mas tem uma licenciatura em "Animação e Produção Artística", e em Belém há  festas, eventos, recepções…
" Excelentíssimo Senhor Presidente da República,"
Olha as palavras que acabou de escrever e sorri. Esperará uma semana, talvez duas, o que ainda não decidiu é se lha manda pelo correio ou vai a Lisboa entregá-la em mãos.

sexta-feira, janeiro 22

Perguntas

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Que mensagem trazia o cão preto, todo carinho e festas, que me apareceu no sonho?
Que disseram os olhos da estranha ao fitar-me na rua?
Donde virá a inquietude que me toma olhando o relógio, se não espero ninguém?
Por que recordo agora o que ambos chamávamos amor e era apenas uma invenção do nosso pouco sentir?
Donde vem este cansaço da alma, a iludir-me que carrego o peso do mundo?
O que causará a aparição dos rostos que quero esquecer e a memória insiste em chamar?
Traí, fui perdoado. Por que não se cala o remorso?
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A imagem é de Miguel Scheroff.