Dez e dez da manhã, quarta-feira, mais de uma hora de atraso, corria pela avenida, sem fôlego, aterrorizado com a cara que o chefe ia fazer quando o visse entrar, desculpa não tinha, uma interminável série de atrasos nos oito meses de emprego.
terça-feira, agosto 31
Entrudo
Dez e dez da manhã, quarta-feira, mais de uma hora de atraso, corria pela avenida, sem fôlego, aterrorizado com a cara que o chefe ia fazer quando o visse entrar, desculpa não tinha, uma interminável série de atrasos nos oito meses de emprego.
domingo, agosto 29
Tempo feio
Há dias que chove e troveja sobre os Países Baixos. A temperatura desceu para os vinte graus, ontem eram trombas de água, inundações e granizo, as previsões para hoje e amanhã não prometem melhorias.
Esta manhã, com saudades do Sol da minha terra, fui-me a espreitar jornais e blogues. Antes o não tivesse feito, porque ao dar com isto, que primeiro descobri aqui, logo se me foi a paz e a boa disposição.
É de gente que desconheço, são raivas que nada me dizem, mas ó senhores, de adolescentes com problemas hormonais ainda se compreenderia, mas adivinha-se quezília torpe de adultos que pelos jeitos sabem de Política, Arte, citam em Latim e ouvem Beethoven.
sexta-feira, agosto 27
Evolução
No tempo em que havia Donas Guilherminas mandavam elas a Rosa fazer compras ao senhor Manuel. O merceeiro aumentava discretamente o peso, dava crédito à semana ou ao mês, apalpava a Rosa numa brincadeira inocente e dizia-lhe que não se esquecesse de dar recomendações à senhora e aos meninos.
Nesse passado feliz o planeta ainda não tinha aquecido, chovia no Inverno, o Sol brilhava no Verão, a fruta era madura, o peixe fresco, a carne de porco sabia a carne de porco, desconhecia-se o aviário, o Algarve era dos pescadores. Salazar tomava conta de nós todos, vivíamos felizes no jardim que, diziam os poetas, era o nosso e à beira-mar plantado.
Mas Salazar morreu, com as revoluções e as Europas já não há Rosas, nem Donas Guilherminas, o planeta ferve, perderam-se os sabores, chegaram os turistas, e o senhor Manuel tem um supermercado. Grande invenção que, como tantas mais, nos veio da América, e põe o freguês a trabalhar de marçano sem paga.
Supunha eu, na minha inocência, que nesse campo nada mais havia para inventar, mas desde há uns tempos o supermercado que frequento aqui em Amsterdam, introduziu um sistema em que o freguês não somente é marçano, mas ainda por cima faz de “menina da caixa”.
À entrada está uma geringonça onde você encosta o seu cartão de cliente, retira um scanner portátil, e com ele vai “disparando” sobre o código de barras dos produtos que quer. Se é coisa de fruta ou hortaliça a balança pesa e dá um talão com código.
Feitas as compras coloca-se o scanner noutra geringonça, esta faz as contas, produz um talão, e até fala, pedindo para introduzir o PIN. Pagou? Basta agora encostar o talão a outro scanner para que a barreira se abra.
Eficiente, rápido, simples. Ainda há ali umas dez ou doze caixas, para atender quem não está para modernices nem mudanças, mas pelo que vejo, e até pode ser que seja política da casa, as “meninas” que lá trabalham parecem cada vez mais trombudas e lentas no funcionar.
quinta-feira, agosto 26
A recordar
Para recordar um Líbano longínquo, os meus amigos libaneses desse tempo, e o muito que com eles aprendi de religião, cortesia e liberalidade.
quarta-feira, agosto 25
Princesa Máxima
Máxima Zorreguieta (1971) nasceu numa boa família de Buenos Aires, estudou Economia, foi para New York trabalhar no Deutsche Bank. No Verão de 1999, numa festa em Sevilha, apaixonou-se pelo príncipe Willem dos Países-Baixos (ou ele por ela) e em Fevereiro de 2002 casaram em Amsterdam.
Bela e triste cerimónia. O pai Zorreguieta tinha sido um apagado Secretário de Estado da Agricultura num dos governos da Junta argentina, e as cabeças bem-pensantes da política holandesa acharam que, muito depois talvez, mas seria uma vergonha assistir semelhante homem ao casamento da filha.
A princesa teve de se conformar, mas, como num aceno, escolheu para moldura musical da cerimónia o tango Adiós Nonino (Adeus Vôvô), de Ástor Piazolla, interpretado pelo talentoso bandoneonista Carel Kraayenhof.
Chorou Máxima, chorou a Holanda inteira, chorámos nós cá em casa. Desde então tornou-se a princesa a menina-dos-olhos do país e o perfeito ícone da Monarquia de Oranje.
terça-feira, agosto 24
R.I.P.
Distraída, ou ignorando as várias possibilidades de interpretação do eterno descanso, uma família de Groningen publicou nos jornais este epitáfio por ocasião do falecimento da mãe e sogra:
“A sua cadeira está vazia. A sua voz silenciou. Sossego, finalmente!”
segunda-feira, agosto 23
Prinsengrachtconcert
Realizou-se no último sábado. Teve início em 1997, repete-se anualmente em Agosto, e é um dos mais simpáticos acontecimentos culturais de Amsterdam: o Prinsengrachtconcert (Concerto do Canal dos Príncipes).
Sobre o Prinsengracht, defronte do Hotel Pullitzer, montam um grande estrado que funciona como palco e espaço para os convidados. O restante público enche o canal com os seus barcos, amontoa-se nas margens ou pendura -se nas janelas.
Os artistas são de qualidade – este ano o pianista francês Jean-Yves Thibaudet e a mezzo-soprano irlandesa Tara Erraught – e o programa incluía Chopin, Satie, Rossini e Gershwin.
Vale a pena ouvi-los aqui. No final, por tradição, artistas e público cantam Aan de Amsterdamse Grachten (Nos Canais de Amsterdam), que é assim a modos do hino da cidade.
Por curiosidade junta-se uma interpretação dessa música, tocada por um dos órgãos que percorrem as ruas.