quinta-feira, janeiro 15

A liberdade e o medo

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Há quem deteste a liberdade, há quem dela abuse, outros acreditam que só a sua própria é a verdadeira e, se não for a bem será a mal, sentem-se no direito de impô-la aos demais.
Vivo na Holanda há quase sessenta anos, sempre em Amsterdam, e a ambos, o país e a cidade, sinto que pertenço, acato as suas leis, respeito os costumes, admiro as garantias que a todos são dadas para uma vida digna.
Nada me impede a crítica, e ricos, poderosos, humildes, brancos, pretos, amarelos, corcundas  atletas, homens, mulheres, hermafroditas ou transgéneros, de todos me sinto igual, a todos respeito.
Na cidade somos oitocentos mil, mais de metade estrangeiros, vindos dos quatro cantos do mundo e nascidos em cento e setenta e oito países diferentes. Marroquinos são uns setenta mil, os turcos cinquenta mil.
Não data da semana passada, vem de longe, vinte anos ou mais. O desequilíbrio. O medo. O avanço das comunidades islâmicas, as imposições que conseguem fazer, aproveitando a lei, mas aproveitando também a cobardia de quem manda.
A tensão aumenta, e se bairros como Slotervaart e Osdorp, onde domina a comunidade muçulmana, se podem considerar luxuosos se comparados às banlieues parisienses, o ambiente pouco difere. Os incidentes raciais no centro estão a ser diários: ora é um jovem muçulmano que ameaça de pistola, ora um holandês que cospe na cara de uma mulher vestida de burka, um grupo de marroquinos que terroriza os passageiros num eléctrico, holandeses que colam nas janelas os cartazes do PVV, o partido de Wilders que quer a extradição dos marroquinos criminosos ou ilegais.
A semana passada, num discurso que fez no seguimento dos assassinatos em Paris, o burgomestre de Rotterdam, Achmed Aboutaleb (marroquino de nascença) disse alto e bom som o mesmo que Wilders: "Para quem não respeita a lei, só há um caminho, é ir embora."
Vale a pena olhar a fotografia acima, porque representa um espírito libertário que, temo eu, irá desaparecer numa cidade e num país que tão livres se querem.
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© Martin Alberts