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Há uma eternidade que
um dia comecei a lê-lo, porque mo tinham recomendado e mais de uma vez calhara
encontrar referências ao herói. Fiquei-me por umas quantas páginas, desgostado
por ser incapaz de apreciar, pois tinha esperado algo no género de Salgari, Júlio
Verne, H.G.Wells, e saía-me um herói
atoleimado demais para no começo da adolescência tomar a sério.
Desisti. Todavia, o
ter desistido não me impediu de, sabendo vagamente do que se tratava, referir
situações quixotescas, citar a luta contra os moinhos, de de vez em quando me valer
do fidalgo para ridicularizar um ou outro.
Felizmente ainda
conheço ocasiões de redenção e continuo a procurar o que ignoro ou desleixei,
de modos que me deitei às quase mil páginas da edução comemorativa da D.
Quixote. E em boa hora o fiz, logo cativado pelo texto de Cervantes, pela
excelente tradução de Miguel Serras Pereira, e a abundância e riqueza das notas.
Com um entusiasmo
que devia ter tido na adolescência vou já no capítulo X, onde se conta Do que mais sucedeu a Dom Quixote com o
biscainho e do perigo em que se viu com uma caterva de iangueses.
Por feliz acaso, e
porque sempre leio mais do que um livro, tinha também começado a leitura do
fenomenal The Narrow Road To The Deep
North, (*) de Richard Flanagan (1961) vencedor do Man Booker Prize 2014, quando dei com a frase seguinte, a qual,
numa ocasião assim, e pela coincidência, quase me fez pensar que, lá do Além,
Cervantes mandou que eu a encontrasse, dando-me motivo para "reler" a
minha alma:
"A good book leaves you wanting
to reread the book. A great book compels you to reread your own soul".
………..
(*) A Senda Estreita para o Norte Profundo, de Richard Flanagan, é uma edição da Relógio d'Água.