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Por vezes, de tão desmesurada, a desgraça alheia provoca-nos um estranho sentimento de alívio, se não de segurança, pois ocupada a afligir os outros não terá ocasião para cedo nos bater à porta.
Assim fosse, infelizmente assim não é, por demais sabemos
como desde o princípio dos tempos a má sorte se especializou em rasteiras, iludindo-nos
com esperanças para que mais abrupta e dolorosa seja a cacetada.
Bela mulher, na força dos quarenta, o seu Natal ia ser um
de alegria nos longes da Suécia onde nasceu. Mas no começo de Dezembro
diagnosticaram-lhe um cancro na face, foi-lhe dito que para salvá-la era
urgente remover ambos os olhos, quatro dias depois estava cega.
Fizemos o melhor para esconder, mas para nós, seus amigos,
o Natal foi sombrio. Pela tragédia, mas também, mau grado o quanto nos queremos
iludir, pela certeza de como é leviana a roda da sorte.