sábado, janeiro 3

A roda da sorte

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Por vezes, de tão desmesurada, a desgraça alheia provoca-nos um estranho sentimento de alívio, se não de segurança, pois ocupada a afligir os outros não terá ocasião para cedo nos bater à porta.
Assim fosse, infelizmente assim não é, por demais sabemos como desde o princípio dos tempos a má sorte se especializou em rasteiras, iludindo-nos com esperanças para que mais abrupta e dolorosa seja a cacetada.
Bela mulher, na força dos quarenta, o seu Natal ia ser um de alegria nos longes da Suécia onde nasceu. Mas no começo de Dezembro diagnosticaram-lhe um cancro na face, foi-lhe dito que para salvá-la era urgente remover ambos os olhos, quatro dias depois  estava cega.
Fizemos o melhor para esconder, mas para nós, seus amigos, o Natal foi sombrio. Pela tragédia, mas também, mau grado o quanto nos queremos iludir, pela certeza de como é leviana a roda da sorte.