Maravilhoso instrumento, um blogue. Faca de dois gumes também, dando a ilusão de que alguém nos lê e deixando-nos com a incerteza se o "leitor" terá mesmo lido, ou foi apenas visitante acidental, alguém que por acaso bateu uma tecla.
Seja como for, a ilusão vale mais. Embala-nos com a possibilidade de que no vasto mundo, homem, mulher, idoso ou criança, há um ser que durante segundos nos bate à porta, ou fica minutos aguardando, nunca saberemos porquê, nem com que simpatia ou interesse, aquilo que escrevemos.
Tempos atrás, com regularidade de cronómetro, vinha aqui alguém que habitava Krasnoiarsk. Seria um russo que lia português? Uma portuguesa que o Destino ou o casamento tinham levado para a Sibéria? Algum minhoto que nesses longes ganhava a vida?
Empurrado pela curiosidade, mais de uma vez estive vai-não-vai para procurar o contacto, mas o bom senso aconselhou que o não fizesse, guardasse a ilusão.
Assim tem acontecido vezes sem conta. Horas que seriam de monotonia ou vazio, passo-as a imaginar quem será, que sonhos tem, a pessoa que me "visita" da Covilhã, Algés, Chicago, de Macau ou Uberlândia. Imagino rostos e sorrisos, gente boa, interessante, que partilha os meus gostos e sabe mais do que eu.
Como seria o meu dia sem as horas de ilusão que o blogue dá?