Conhecemos a Teresa
desde o berço, vimo-la crescer, fomos aos seus casamentos, continua fascinante
notar como herdou da mãe a paixão do exagero teatral. Da cena mais corriqueira
ao relato dos amores da sua juventude, do curso que não terminou às paixões que
viveu, a mímica, o tom da voz, os passos, o revirar dos olhos, tudo nela é o de
quem nesse momento está num palco e exige atenção do público.
Em detalhe, tom
dramático e vezes sem conta repetida, uma dos suas melhores representações é a
da “intervenção cirúrgica” a que teve de se submeter no início da primeira
gravidez, e resultou em se tornar estéril.
Ergue-se de súbito,
aponta o baixo-ventre, descreve com dois dedos um círculo, dando a impressão de
que segura um bisturi, e exclama com drama:
- Arrancaram-me
tudo!
Não só em mim, lê-se
o mesmo na cara dos outros presentes: vemo-nos de súbito no bloco operatório, o
corpo na mesa, o sangue a jorrar, os cirurgiões muito concentrados, a
aparelhagem complicada, as lâmpadas, um sem-fim de cabos. Depois murmura
qualquer coisa e finge passadinhas,
seguimo-la na maca pelos corredores, entramos no quarto, assistimos aos
cuidados das enfermeiras, detalha a complicação das ligaduras.
Ainda de mais
sofisticado talento, é a representação minuciosa da visita dos médicos na manhã
seguinte, o professor falando de sinartrose e pericárdio, uteremia, palavras
que nada lhe dizem, nem a nós, mas que decorou para aumentar o nosso espanto.
Senta-se então
lentamente, suspira funfo, mas logo volta a erguer-se, pronta para o terceiro e
último acto: a representação da sovinice do Alfredo, o seu descaso pela cópula,
as birras que tinha, as discórdias, finalmente o divórcio.
Essa parte gostaríamos
que nos fosse poupada - o falecido era bom homem, bom amigo - e é então que
alguém diz que vão sendo horas de irmos à deita.