sexta-feira, abril 28

Tecnologias

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Ouve-se por aí que os ‘millenials’, fascinados pelas novas tecnologias, não têm tempo nem mostram interesse pelas actividades antigas e morosas da leitura e da reflexão.. Compreendo. E por isso me alegro de ler que estão a caminho os carros que reagem aos gestos, prenúncio de uma divertida era de locomoção para analfabetos mudos. Talvez também surdos, se mantiverem os auriculares.
 

quinta-feira, abril 27

Mistério

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Raro passa dia em que em jornais, blogues, semanários, não dê com uma citação de Hannah Arendt. E até em conversas as oiço. Haverá tanta gente com The Human Condition na mesinha de cabeceira?

terça-feira, abril 25

O chorudo vento dos moinhos

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A política é a arte de em vários planos alcançar poder e proveito, nela se movendo uma infinidade de personagens. Poderão os ditadores estar no topo, mas abaixo deles é longa a lista dos que, espertamente cautelosos, sabem alcançar poder e proveito, evitando o destino de um Saddam Hussein. Se por acaso lhes vemos o rosto, raro nos damos conta da influência que exercem sobre as nossas vidas, ou de como decretam até que ponto apertar o nó, de maneira a que continuemos a respirar, mas receando que de um instante para o outro nos falte o ar.

Poderá um ou outro ser apanhado com a boca na botija, mas esses só são interessantes como notícia e logo esquecidos, caso haja inundações ou um avião caia ao mar. Os que devemos temer e jamais veremos atrás de grades, são os artistas de topo na prestidigitação, que roubam dando ideia de nos favorecer.Num tempo mais sereno o lucro das companhias de electricidade revertia para o Estado, mas hoje a maioria é privada e tem por alvo o máximo benefício dos accionistas.

Como esse interesse particular se dá bem com o medo que causa o suposto aquecimento do planeta, promova-se então a energia eólica, que oferece o duplo benefício de, além de “verde”, ser  fonte de colossais subsídios que vão parar às mãos daqueles que, por serem ricos, dispõem dos instrumentos que lhes permitem encaixá-los.Na Holanda, onde vivo, os lavradores recebem 30.000 euros líquidos por cada eólica que instalam nos seus campos, subindo a milhares de milhões a importância necessária para subsidiar as energias “verdes e limpas”. 

Ora como o dinheiro não é de geração espontânea, há que ir buscá-lo aonde se encontra como que à mão de semear, simplesmente aumentando o preço e os impostos sobre a maléfica energia “suja”. 

Curiosamente, todos os partidos, ferrenhos que são na defesa do meio ambiente, escamoteiam  a realidade de que na Holanda, nos últimos dez anos, e mau grado os desproporcionados subsídios às empresas geradoras de energia “limpa”, as emissões de CO2 aumentaram 2%, enquanto na Europa diminuíram 25%. Também  dá que pensar o facto das confederações patronais apoiarem a entrada no futuro governo do partido “Groen Links” (bizarra coligação  da extrema esquerda, dos “verdes” e dos comunistas).

E é de facto como está no artigo donde tirei alguns dados: “Os fornecedores de energia “limpa” não cumprem, mas encaixam, e por recompensa receberão mais subsídios, para mais moinhos, sendo a conta apresentada às classes baixa e média. Alucinante.”   

 

Estava isto alinhavado, vem ontem um abaixo-assinado de nada menos que noventa catedráticos, a aconselhar que para lá das verbas já calculadas, se reservem ainda  duzentos mil milhões de euros para mais moinhos. É alucinante é, mas há tanto e tão bom dinheiro a ganhar com o vento.

segunda-feira, abril 24

Medrosos e deploráveis

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É lugar-comum, por vezes uma brincadeira, mas em certas ocasiões quase se toma a sério e não resiste a gente a dizer que, de uma maneira ou doutra,  “isto anda tudo ligado”. Acontece assim que ouvi pela primeira vez falar do nome Bertelsmann, quando em 2009 a Quetzal editou o meu ‘Com os Holandeses’, mal fazendo ideia de que a empresa, então proprietária da Bertrand e que pouco depois a venderia à Porto Editora, não era, como eu supunha, uma qualquer editora alemã, mas um conglomerado de emissoras de televisão e um dos gigantes multimédia a nível mundial.

Quis recentemente o acaso que a leitura de uma crónica no semanário holandês ‘Elsevier’ viesse despertar a minha curiosidade, aprendendo aí a existência de uma Fundação Bertelsmann (‘Bertelsmann Stiftung’), não só casa-mãe da empresa, mas com importantes  actividades de lobby junto dos organismos da União Europeia, nas quais despende anualmente para cima de 4 milhões de euros, ‘dando a impressão de nesses organismos viver de portas adentro’.

Poderosa como é, a Fundação Bertelsmann tem uma inegável influência na vida política alemã e na orientação das elites, a ponto que, segundo o cronista, ‘a quem quiser estar ao corrente das tendências da sociedade e da economia alemã basta a consulta dos relatórios da fundação’.

Num desses relatórios, em Novembro passado, era questão de analisar a atitude dos cidadãos relativamente aos problemas da mundialização, inquirindo-se dos interrogados se a consideravam uma ameaça ou uma oportunidade. Uma pequena maioria, 55 porcento, respondeu que será uma oportunidade, enquanto que 45 porcento vê na mundialização uma ameaça. Porém, conclui o relatório, estes últimos são sobretudo os que, dispondo de baixos rendimentos, com um nível de educação inferior e já idosos, tendem a simpatizar com os partidos populistas da direita.

Foi ao ler isso  que recordei as afirmações de Hillary Clinton, pois pelos jeitos não lhe cabe o exclusivo de considerar “deploráveis” aqueles que vêem uma séria ameaça na imigração massiva e falam abertamente do medo que os assalta ao terem consciência dos perigos que ressentem.

Termina o cronista afirmando que ‘pelos jeitos a elite alemã tem ideias bem diferentes das daqueles que considera serem medrosos e populistas da direita, e o seu desejo não é que a imigração diminua, mas aumente.’

Com que fim, e para defesa de que interesses, só o tempo o dirá, mas é pouco provável que então, como agora, os “deploráveis” tenham voz que se faça ouvir.
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Publicado na DOMINGO CM.