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É lugar-comum, por
vezes uma brincadeira, mas em certas ocasiões quase se toma a sério e não
resiste a gente a dizer que, de uma maneira ou doutra, “isto anda tudo ligado”. Acontece assim que
ouvi pela primeira vez falar do nome Bertelsmann, quando em 2009 a Quetzal
editou o meu ‘Com os Holandeses’, mal fazendo ideia de que a empresa, então
proprietária da Bertrand e que pouco depois a venderia à Porto Editora, não
era, como eu supunha, uma qualquer editora alemã, mas um conglomerado de
emissoras de televisão e um dos gigantes multimédia a nível mundial.
Quis recentemente o
acaso que a leitura de uma crónica no semanário holandês ‘Elsevier’ viesse despertar
a minha curiosidade, aprendendo aí a existência de uma Fundação Bertelsmann
(‘Bertelsmann Stiftung’), não só casa-mãe da empresa, mas com importantes actividades de lobby junto dos organismos da
União Europeia, nas quais despende anualmente para cima de 4 milhões de euros, ‘dando
a impressão de nesses organismos viver de portas adentro’.
Poderosa como é, a
Fundação Bertelsmann tem uma inegável influência na vida política alemã e na
orientação das elites, a ponto que, segundo o cronista, ‘a quem quiser estar ao
corrente das tendências da sociedade e da economia alemã basta a consulta dos
relatórios da fundação’.
Num desses
relatórios, em Novembro passado, era questão de analisar a atitude dos cidadãos
relativamente aos problemas da mundialização, inquirindo-se dos interrogados se
a consideravam uma ameaça ou uma oportunidade. Uma pequena maioria, 55 porcento,
respondeu que será uma oportunidade, enquanto que 45 porcento vê na
mundialização uma ameaça. Porém, conclui o relatório, estes últimos são
sobretudo os que, dispondo de baixos rendimentos, com um nível de educação
inferior e já idosos, tendem a simpatizar com os partidos populistas da direita.
Foi ao ler isso que recordei as afirmações de Hillary Clinton,
pois pelos jeitos não lhe cabe o exclusivo de considerar “deploráveis” aqueles
que vêem uma séria ameaça na imigração massiva e falam abertamente do medo que
os assalta ao terem consciência dos perigos que ressentem.
Termina o cronista
afirmando que ‘pelos jeitos a elite alemã tem ideias bem diferentes das
daqueles que considera serem medrosos e populistas da direita, e o seu desejo
não é que a imigração diminua, mas aumente.’
Com que fim, e
para defesa de que interesses, só o tempo o dirá, mas é pouco provável que
então, como agora, os “deploráveis” tenham voz que se faça ouvir.
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Publicado na DOMINGO CM.