quinta-feira, outubro 30

'Volto já"



"VOLTO JÁ"

Mas vai demorar uns dias.






É honra



Recebe-se uma carta dizendo que, nas bibliotecas, "aparece um razoável número de pessoas que gostaria mas, por deficiência visual, não pode ler os seus livros.”

Se dá licença para que se editem em grande formato e letra a condizer com o nome da editora: XL.

Paga? Dois exemplares da obra. Direitos de autor? Nenhuns. Mas é honra, além de que o sentimento de solidariedade provoca uma intensa satisfação.

quarta-feira, outubro 29

"Talking to himself"

"When the inner history of any writer's mind is written, we find (I believe) that there is a break at some point of his life. At some point he splits off from the people who sorround him and he discovers the necessity of talking to himself and not to them."
(V.S. Pritchett (1900-1997)

"Quando a história íntima da mente de qualquer escritor se acha escrita, constatamos (creio eu) que em determinado momento da sua vida houve um corte. Em determinado momento separa-se dos que o rodeiam e descobre a necessidade de falar consigo próprio, não com eles".

Também já li e é facto, as pessoas ainda se suportariam, mas as suas conversas!...

terça-feira, outubro 28

Tonturas

O modo como alguns escritores, por vezes tão penosamente vaidosos, se cansam a explicar os princípios filosóficos, morais, sexuais, sociais, das suas obras. O modo como tudo é ampliado, engrandecido, preparado para a venda, o êxito, a vitória - quando ao fim e ao cabo o conto, a novela, o romance, são somente histórias.

O autor fornece a moldura, os contornos, o movimento, e o leitor com a sua sensibilidade completa a obra. Só isso. O resto, explicações, andaimes, estruturas e sistemas, as escolas, as correntes, as modas, será útil para a fama e o comércio, mas é passageiro, insignificante.

Contudo, esses bombardeamentos tornam difícil manter-se a gente insensível, e de vez em quando pergunto-me porque bizarro destino o meu escrever é apenas escrever, apenas trabalho. Porque é que não oiço vozes nem tenho revelações? Porque não chega até mim a inspiração do Altíssimo? Porque é que na minha vida nunca se dão daqueles encontros ou situações donde subitamente faísca a luz do génio?

Deus sabe que não sofro de excessiva modéstia, mas como me sinto zé-ninguém quando comparo a minha singela labuta com as complexas construções intelectuais, artísticas e filosóficas que a maior parte dos escritores jura estar na base dos seus livros! Sejam holandeses ou suecos, americanos, búlgaros ou marroquinos, portugueses, croatas, todos eles parecem viver em planos tão esotéricos e elevados do pensamento, que só de ouvi-los sinto tonturas.

segunda-feira, outubro 27

Comparações

Sem dar tempo a que lhe feche a boca, acontece por vezes que um ou outro bem intencionado se me põe a cantar as loas dum escritor, dos seus livros, das emoções que esses livros lhe causaram. E a beleza do estilo do homem, a profundidade do seu pensar, a rectidão da sua moral, a firmeza dos seus ideais...

Em ocasiões assim o que irrita não é propriamente a inveja causada pelo talento alheio, ou a falta de finesse do interlocutor, mas a comparação implícita.