(Clique)
Estivesse o tempo soalheiro, eu provavelmente teria a
cabeça desanuviada e punha travão às sombras do meu pensar, mas o dia é de escuridão;
e rijo, frio, de má cara, o vento sopra do Mar do Norte, encolhe-se-me ao mesmo
tempo o corpo e a alma.
As tragédias já são de ontem, retorno ao comezinho, à
rotina, às pequeninas coisas que ontem, se por instantes nela tivesse atinado, me
teriam parecido absurdas, mas são o que me mantém de pé, me ajuda a esquecer o
medo, a dor, a raiva, a ter esperança de que talvez nem todos os amanhãs sejam assustadores
como a tempestade que ruge lá fora e, numa raiva insana, tudo parece querer
destruir.