A razão do nosso encontro era outra, mas tínhamos festejado os seus cinquenta e oito anos dias antes e, como por acaso, ele levou a conversa para as questões de afectos, as dúvidas que se têm quando se aproxima a velhice, o temor dos falhanços, a insegurança dos amanhãs.
E de súbito uma inesperada confissão: - Quer você crer
que até hoje só fui para a cama com três mulheres? Quase nos sessenta e só três
mulheres? Não vai acreditar, pois não? Neste tempo e só três! A prostituta que
me desvirginizou, uma namorada que pelos jeitos desapontei, e a Elvira.
Fez uma pausa, como se aguardasse a minha opinião, mas à
cautela fiquei-me pelo sorriso que, discreto , tanto poderia significar
espanto como um convite ao desabafo.
- Pois é verdade. Três. Às vezes a Elvira…
Tenho de confessar que a certo momento deixei de ouvi-lo,
tanto por falta de interesse como pela pressa em que me encontrava, mas
distraído também pela recordação da sua esposa.
Elvira é russa, conheceu-a em São Petersburgo quando lá
esteve num congresso, e pelos jeitos, entre o quase sexagenário e a mulher a
meio dos trinta, foi paixão fulgurante.
Não vem ao caso o detalhe da fortuna de um, menos ainda
os arrebatamentos eslávicos da outra, engenheira química dada a mudanças de
humor tão inesperadas e violentas como certas experiências de laboratório.
Pertinente aqui é a de uma desavença de que por acaso fui
testemunha. Ignoro o motivo, mas lembro
que, embora entre ambos o tom tivesse subido, o inglês, a língua em que
comunicam e ambos falam na perfeição, ainda permitia certo decoro. Até ao
momento em que, esquecendo a minha presença, ele lhe atirou:
- You are terrible, Elvira! Soon it's going
to be impossible to live with you!
- How soon?
Grande Elvira. Rainha do sarcasmo.