segunda-feira, maio 31
Visita matinal
quinta-feira, maio 27
A melhor das companhias
Que tenha entrado neste blogue porque quis, ou simples acaso, agradeço-lho de igual modo. Sabe porquê? Pelas ilusões que me dá.
Mulher ou homem a começar a vida, na meia idade ou com um pé na cova, imagino-lhe um aspecto físico e cubro-a/o de virtudes. Empresto-lhe também umas quantas qualidades que aprecio no meu semelhante, sobretudo aquelas que em mim escasseiam.
Vive você em Penamacor, Torres Vedras, Manaus, na Ilha do Sal? Em Cascais? Na Noruega? Que isso não obste. A imagem que de si faço é dinâmica, culta, bem humorada e saudável, cosmopolita. Claro que tem um pendor artístico, gosta de Mahler, possui um refinado humor, valoriza a nuance e o subentendido, leu mais que o bastante. Em certas ocasiões franze o sobrolho com aquilo que escrevo, mas não mo leva a mal, antes pelo contrário, pois pertence ao número dos civilizados que compreendem e aceitam a diversidade dos pontos de vista. De longe a longe sorri comigo.
Anónimo ou quase, silencioso, invisível, presente e contudo distante, você é o perfeito interlocutor e a melhor das companhias.
quarta-feira, maio 26
A viola
Nunca teve muitos praticantes, a bela arte de meter a viola no saco. Corrente é o tirá-la de lá e dedilhar, ora inconveniências, ora asneiras, sem cuidado nem preocupação de se interrogarem se o outro é servido.
Quando estou de melhor humor digo-me que deve ser do tempo, ou porque anda a Lua em quarto minguante, noutras ocasiões oiço calado e tomo depois uma aspirina.
De momento parece que os atraio, os impertinentes que começam por um elogio chocho e me explicam então que, no texto tal, eu deveria ter eliminado o segundo parágrafo, "porque ficava muito melhor." Lamentam também a secura e o laconismo do que escrevo, inquirindo com ar fino se será por estar "há tantos anos lá fora." Muito proveito tiraria eu, dizem, se lesse a prosa de X, autor de dois belos romances e uma antologia poética.
Aí já não dedilham. À desgarrada e em ré maior desatam a cantar o talento de X, "que esse sim, esse é que merecia o Nobel!" Hão-de me trazer o primeiro livro dele, e vou ver "como é que se escreve."
Quem nesses momentos me vir sorridente, silencioso, a dizer que sim com a cabeça, saiba que estou a invocar a divindade, solicitando ao Altíssimo que a paciência com que sofro seja tomada em desconto dos meus muitos pecados.
terça-feira, maio 25
Ontem à tarde
segunda-feira, maio 24
Viajantes
Viram mundo. Provam-no com relatos, fotografias, vídeos, por vezes até uma dúzia de linhas de gazeta. Viram mundo, viajaram muito, foram aos longes onde tudo é exótico, mas só defeito de nascença ou desarranjo da cabeça explicará tanta boçalidade.
Comentam o que viram com um entusiasmo que quer passar por original e é apenas um triste refogado. Conhecem gente. Mencionam datas, casos. Viveram tantas situações em simultâneo que se diria terem herdado a ubiquidade antonina. São simples. Arrepanhando os lábios ou de queixo descaído, sofrem da pedantice triste dos que papagueiam fiapos de conhecimento mal atado. Têm opiniões. Aborrecem. Viram mundo, mas ao ouvi-los pergunta-se a gente em que desertos se terão perdido.
domingo, maio 23
Repetições
Amigo de décadas e leitor atento, João Nuno Alçada assinala o que Eça de Queirós, em 1872, escreveu em "Uma Campanha Alegre":
"Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá... ...vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal."
sábado, maio 22
Foge deles
Foge deles.
Nasceste entre montes, males e misérias, temeroso da escuridão. Aos poucos, sem saber como nem sequer porquê, foste afastando as sombras, descobriste a beleza e a grandeza que elas escondiam.
Quiseste mais, procuraste sem encontrar. Ignorante de que não se voa sem asas, confiaste que ventos de boa fortuna soprariam na direcção do sonho, um longe de beleza, justiça e paz.
Rota de fraguedos, remoinhos, despenhadeiros, erros de bússola, resistindo a ciclones contrários, sofrendo maleitas e malefícios. Jornada para um horizonte de miragem.
Foste, eles ficaram. Tem cautela. Não deixes que te prendam.