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Culpado ou não, fosse José Sócrates meu amigo eu
certamente o iria visitar à cadeia. Contudo, certamente também, não me ouviriam proferir juízos e cair no ridículo de clamar
a sua inocência quando abundam, se não as provas definitivas, suspeitas
fundadas o bastante para mantê-lo preso.
Toda essa agitação, porém, interessa-me menos pelo que é
e tem de ridículo, do que por ser sintoma
de que certa classe política parece não se dar conta de que já alguma coisa
mudou e mais está para vir; que a coutada que tomaram de assalto quarenta anos
atrás,e esperavam viesse a ser herdada por filhos e sicários, talvez venha a conhecer melhor
destino.
Seja como for, tanto a prisão e a personalidade do
ex-Primeiro Ministro, como a curiosa e ainda patente soberba do ex-DDT, além de
interessantes capítulos da nossa história, funcionam como o vidro de aumento
que ajuda a que melhor olhemos para nós próprios, o país que somos, a realidade
que nos cerca.
À luz do que tem acontecido, bem podem os bonzos políticos
e os vários "históricos" agitar-se, esbracejar, iludir-se de que ainda
estão no poder. Não estão. Já o perderam. Por muito que gritem que sem eles
será o caos, o poder cairá na rua, todos sabemos que assim não é. O
poder cairá nas mãos doutros, mas esses terão aprendido que os Sócrates, os
Soares, os vários donos disto tudo e mais alguma coisa são o passado, que será
mais curta a sua margem de manobra.
Sempre é um passo em frente.