(Clique)
Lê-se e dói:
"Essa harmonia que parece reinar na engrenagem social
portuguesa é uma harmonia toda fictícia. A nossa organização social é uma
organização mentirosa, sem estabilidade, sem unidade, uma ficção de engrenagem
civilizada, encobrindo a torpeza dum parasitismo desenfreado e impudente."
"Em Portugal não existe o egoísmo da nação vencendo e
disciplinando o egoísmo de cada português. A nossa vida política, económica e
moral não tem sido senão uma série lastimosa de actos de egoísmo individual
impondo-se despoticamente ao egoísmo colectivo, ao interesse da nação, e
subjugando-o."
"As quadrilhas messiânicas bebem-lhe o sangue e vendem-lhe
o pão por um preço fabuloso. E esse povo humilde, secularmente escravizado,
intrepidamente, com uma heroicidade animal que só a ignorância dá, deixa-se sugar,
deixa-se morrer de fome, e, quando não se resigna a morrer de fome – emigra."
"Não compensar o trabalho é aniquilar o estímulo de
trabalhar. E até certo ponto, se não é justo, é pelo menos explicável que
homens, que em outros meios seriam prodigiosas fontes de riqueza e de
progresso, respondam invariavelmente aos que os incitam a fazer qualquer coisa: "Não vale a pena."
............
Manuel Laranjeira (1877-1912)
Miguel de Unamuno (1864-1936)