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Mais uma vez grato a Oliveira Martins e à sua profética História de Portugal.
A julgar pelo que se lê e ouve é prato do dia, e quando não é no país é no mundo, ao abrir o jornal quase se espera que não falhe a mulher espancada ou assassinada. Sabemos que para mal de todos continuará assim, e que para o jornal, a televisão, nas conversas, as más notícias são as "boas notícias", as em que de imediato se atenta e mais tempo ficam.
No que respeita a da violência doméstica há muito a dizer, infelizmente cabe às mulheres a parte maior do sofrimento e não faltam teorias, estudos, relatórios, as opiniões de peritos de toda a espécie a assinalar e a recomendar, se bem que daí nunca tenha vindo solução.
No caso destes dois não há bofetadas nem pontapés, nunca os ouvirão a gritar insultos ou acusações, e se por acaso alguém pudesse espiar o seu dia-a-dia, ou os visse à hora em que com um beijo na face se desejam boa-noite e deitam na mesma cama, diria para consigo que casais assim há muitos, casais que evitam situações extremas e navegam na vida com cautelas de piloto da barra, atento a que o navio passe ao largo dos bancos de areia e escape às correntes traiçoeiras que levam ao naufrágio.
Infelizmente, também aqui as aparências iludem. A Germaine e o Diogo são duas potências que vai para sete anos mantêm uma paz armada, ambos sabem que é frágil o equilíbrio que criaram, mas que a declaração de guerra e a abertura das hostilidades só lhes traria perdas. De modo que por enquanto é guerrilha, tão eficiente que o "inimigo" pode acusar o ataque mas se vê impotente para reagir, a menos que queira arriscar a guerra. Leva assim cada um a sua vida, cuidadoso no manter das aparências, nunca deixando que um aparte ou a expressão do rosto ponha a descoberto o que lhe vai na alma.
Amaram-se num passado que já lhes parece remoto, e se os confrontassem num tribunal teriam dificuldade em explicar como pouco a pouco, com ninharias, o caminho que parecia liso se tornou acidentado, e um franzir dos lábios, um remoque, uma ponta de ironia, os desleixos, as pequeninas irritações, são outros tantos morteiros que só por um triz não disparam, mas lhes mostram como é frágil a aparência de paz em que vivem. Paz que há muito chegou ao fim e talvez só precise da crueza de um insulto, um empurrão, o desespero duma bofetada, para que deixem cair a máscara e se libertem da cadeia em que a hipocrisia os mantém presos.
É tenebrosa e repugnante a violência doméstica da tortura física, das facadas, dos assassinatos, mas fale-se também da que tantos escondem.
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18.000 manifestam esta manhã em Berlim contra as restrições da pandemia. Felizmente desacatos destes não acontecem nos países de brandos costumes, onde não se discute nem discorda da sabedoria de quem manda.