Para quem o recheio da carteira não é problema, são sem conta as formas de passar o tempo e uma só a dificuldade: a da escolha. Que essa tem o que se lhe diga, não é qualquer um que do pé para a mão decide se vai de férias ao Algarve, finalmente realiza a visita aos Açores, escolhe Nova Iorque, as Antilhas ou, já cansado da própria indecisão, descobre-se em meados de Junho num hotel da Corunha, a gozar sete dias de frio, chuva e nevoeiro.
Vai quase em dois anos que num almoço de amigos se começou a falar de férias, e o Quim Tavares os tinha feito rir com a sua “desgraça” na Galiza, o frio, a chuva e o nevoeiro, felizmente compensados pela qualidade das ostras e dos mexilhões.
Como para fazer contrapeso ao relato do Tavares, mas também por ser esse o seu feitio de indestrutível optimista, começou o Pontes com a ladainha do clima de Bali e aquelas raparigas...
O Faria interrompeu-o, era enfadonho anos a fio a aturá-lo com Bali e as gajas de tanga, só mesmo um maduro como ele não se dava conta. Já agora, para variar, ouvissem o que lhe contara o Mascarenhas, que não tinham voltado a ver desde que estava de casa e pucarinho com a viúva do Frazão.
Por influência da dita senhora, talvez também porque os dois enfartes, além do susto o teriam levado a reconsiderar a possibilidade de que haja Céu, Purgatório e Inferno, o Mascarenhas regressara ao seio da Santa Madre Igreja e assistia à missa, mas deixara ainda que a companheira o convencesse a entrar num grupo, que todos os quinze dias organizava excursões a cemitérios, menos por motivos de devoção ou piedade, do que apreço pela arquietctura dos túmulos, e a extraordinária variedade das expressões a testemunhar a perda, dor e saudade causada pelos defuntos.
Indecisos se deveriam rir ou lamentar o amigo, escolheram a solução clássica: onde vamos jantar?