"Não se trata da Covid nem do SNS nem da saúde pública nem das festanças, não por acaso permitidas aos titulares do regime. Trata-se de pura exibição de autoritarismo. Há muito que as experiências empreendidas por Costa, Marcelo e Companhia Ilimitada excedem o ridículo, inevitável e compreensível em nulidades, e assumem o descaramento. Ridículo é por exemplo o dr. Costa tropeçar na língua e na lógica (“Devemos procurar evitar estar à mesa o tempo estritamente necessário…”). O descaramento é tropeçar no direito e achar-se habilitado a decidir o comportamento dos cidadãos. E o pior é os cidadãos consentirem. Os cidadãos consentem e aplaudem o enxovalho e a punição dos resistentes ao enxovalho. Não deviam: se a trupe no poder tem nojo de nós, convinha termos nojo deles. Enquanto não retribuirmos o sentimento, a humilhação não cessará, e não cessará de aumentar. Rir do médico das compotas não nos redime da situação vergonhosa em que caímos. Na comédia proporcionada por gente grotesca, os espectadores são o alvo da chacota. E essa é a tragédia."
Alberto Gonçalves no Observador