domingo, abril 3

Pilates e Botox


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Isto é sobre a velhice. Não a minha, mas a tua, ainda num futuro remoto, improvável, impossível, um daqueles futuros que só chegam para os outros, e tu vais impedir que se aproxime com barreiras de ginástica, yoga, Pilates, ensaboadelas de cremes, injecções de Botox, saladas e cirurgias.
Bíceps, peitorais, dorsais, cintura sem banha, queixo firme, cara limpa de rugas. O espelho sorri-te, diz-te que vences e ficarás assim pelos anos dos anos, amém.
Eu, não imaginas e de certeza não acreditas, perdi a juventude – de facto não tive, nasci velho – e desse modo, a par de desvantagens sem conta, foi-me cedo poupada a ilusão de que seria possível manter-me alerta  e forte a vida inteira.
A que vem todo este arrazoado? Nem eu próprio sei. Há daquelas horas em que uma  imagem, uma frase, dispara tantos sentimentos que é pena perdida querer descobrir os como e por quê. Creio, mas não juro, que começou com a fotografia de um vaidoso parecido contigo, e daí fui saltando, veio-me à memória a frase em que a desconhecida dizia: "Chorei. Às vezes, muitas vezes, tenho saudades da mulher que fui"; recordei a amargura de não ter tido juventude; veio-me à lembrança sabe Deus que mais. Quando dei conta já tinha escrito isto, que não é o que tencionava dizer.