Povoado de
“rabelos”, escasso na largura, com gargantas fundas, a despenhar-se em cachões
por entre penedias, e logo adiante espraiado em calmas de lagoa, um areal
acolá, outro além - para quem o conheceu assim o Douro já não é.
O Douro das cheias, dos desastres, dos “rabelos” que descarregavam cordeirinhos
nos Guindais para a festa joanina, os barqueiros a degolá-los ali mesmo, o
sangue a escorrer nos degraus do cais – para quem o conheceu assim o Douro já
não é.
O Douro dos “valboeiros” da carqueja, do carvão, o Douro das pipas de “vinho
virgem”, o rio por onde viajavam os “saleiros”, o das pranchas a feder a piche
na margem de Gaia, o Douro de Miranda, o da gente tisnada ao sol do Pocinho, do
Pinhão, da Régua – para quem o conheceu nesse tempo, o Douro já não é.
Vê-lo modernaço e a enriquecer, torna em melancolia o que devia ser júbilo. O
Douro já não é.