Desde que se usem a propósito, os provérbios dão jeito para pôr fim a certas discussões, defender um ponto de vista que os outros atacam, e assim evitar discórdias, sempre penosas quando se dão entre amigos.
Conhecemo-nos há vidas, ano mais ano menos somos da mesma geração, é raro que algum falhe o jantar mensal, que desta vez caiu na quinta-feira, por acaso o dia em que os jornais badalavam o escândalo da princesa Marta Luísa.
A cinquentona, primogénita dos reis da Noruega, divorciada, mãe de três, pôs-se há pouco de casa e pucarinho com um xamã, vulgo bruxo, de seu nome DurekVerrett, adivinho e curandeiro americano querido dos famosos, que acreditam ser ele a sexta reincarnação de bruxos do princípio dos tempos.
Discutíamos o caso estapafúrdio, por certo doloroso para os pais da tonta, que “fala com os anjos”, e foi então que ao Vasco, que sustenta dois matulões desordeiros, num desabafo lhe ocorreu dizer que “quem tem filhos tem cadilhos”.
Ao ouvir aquilo o Policarpo abespinhou-se. Pai de seis, católico à antiga, é uma fera em coisas da religião, não fizesse ele parte de uma rede de fiéis que, em segredo, ouvem a missa em Latim. Não admitia que se falasse em cadilhos! Filhos não eram tropeços nem peso, sim uma dádiva do Senhor!
O Vasco sorriu, ergueu os braços num gesto de paz, falou-se então do raspanete do presidente à ministra, e como é certo e seguro que só um milagre porá fim à roubalheira.
- Nada adianta! Os pandilhas estão de pedra e cal. Mude-se mas é a conversa. O que a mim dava jeito era se esse tal bruxo me livrasse dos bicos de papagaio na coluna.
- Se o dinheiro te sobra - disse o Tiago – nada contra, mas se calhar não vais querer.
- E porquê?
- Li no jornal que é uma exigência do gajo. Tens de assinar um papelinho a autorizá-lo a que te inspecione nu e te apalpe a ferramenta.