Maria Isaura Pereira de Queiroz (1918-2018). Socióloga de renome e nos anos
60 catedrática na Sorbonne. Amiga desse tempo longínquo, partilhava
então comigo o interesse pelos “Cangaceiros” e a invasão lusitana de
Paris.
Ela contou e provavelmente esqueceu. Eu anotei para não esquecer.
Ambos no comissariado da polícia, esperando para renovar o visto de residência, o rapaz atreveu-se a falar. Depois –ao fim e ao cabo ela vinha de São Paulo, tão longe! – encorajou-se e convidou-a tomar um café, contou da sua vida:
- Quando estive em Lisboa a tratar dos papéis, ainda quis casar, mas a rapariga foi sincera, disse que gostava de mim, só que não podia, eu não era o primeiro. O patrão tinha-a desgraçado.
- Mas aqui em Paris, com tanta mulher… E bonitas!…
- Está enganada, minha senhora! Casar cá? Nunca! São piores do que as da rua! Vão com todos! Fazem tudo!...
- Mas na sua terra de certeza que há boas raparigas… Sérias…
- Pois há!... – e tristonho, baixando a cabeça – Mas envergonham-se! Não fazem nada!
Ela contou e provavelmente esqueceu. Eu anotei para não esquecer.
Ambos no comissariado da polícia, esperando para renovar o visto de residência, o rapaz atreveu-se a falar. Depois –ao fim e ao cabo ela vinha de São Paulo, tão longe! – encorajou-se e convidou-a tomar um café, contou da sua vida:
- Quando estive em Lisboa a tratar dos papéis, ainda quis casar, mas a rapariga foi sincera, disse que gostava de mim, só que não podia, eu não era o primeiro. O patrão tinha-a desgraçado.
- Mas aqui em Paris, com tanta mulher… E bonitas!…
- Está enganada, minha senhora! Casar cá? Nunca! São piores do que as da rua! Vão com todos! Fazem tudo!...
- Mas na sua terra de certeza que há boas raparigas… Sérias…
- Pois há!... – e tristonho, baixando a cabeça – Mas envergonham-se! Não fazem nada!