quarta-feira, março 27

Bilhetes (5)


Do ponto de vista da evolução política a Holanda é neste momento um país interessante. Depois de a partir dos anos 60 ter acolhido grande número de emigrantes marroquinos e turcos, estes e os seus descendentes foram assimilados pela sociedade holandesa, um grande número ocupa posições de destaque nas artes, na literatura, nos meios de comunicação, na ciência, na medicina, no funcionalismo, sobressaindo entre eles o burgomestre de Roterdão e a presidente do Parlamento, ambos marroquinos.
Por certo há também a chamada ‘Mocro-mafia’, importante número de traficantes de droga, que se distinguem pelo número de assassinatos, e era esses que Geert Wilders queria que fossem deportados para Marrocos, caso tivessem ainda passaporte marroquino. Mas a política é a política, deturpar factos faz parte do jogo, acusaram Wilders de que queria deportar todos os marroquinos. O seu partido, o PVV, foi o segundo nas eleições de 2017, mas não foi chamado a participar no governo, sendo ‘democraticamente’ ignorada a opinião dos 1.300.000 cidadãos que nele tinham votado.
Desde então muito mudou, o governo de coligação tem-se mostrado incapaz de resolver importantes problemas, promete hoje nega amanhã, esquece, volta a prometer,  entusiasma-se em demasia com o clima, ninguém prevê vida fácil para nenhum dos partidos que o compõem. Entretanto, Thierry Baudet (1983) um jovem historiador tinha fundado em 2015 um novo partido de direita, Forum voor Democratie, que nas legislativas conheceu um inesperado mas modesto êxito, tendo ganho dois lugares no Parlamento.
Depois os moinhos moeram e, inesperadamente, porque talvez esteja em sintonia com a vontade de uma maioria, nas recentes eleições para o senado foi o partido mais votado, e muito provavelmente alcançará um bom resultado nas próximas legislativas. Todavia, o êxito do FVD, desagradou a tantos que causou uma estranha novidade: nas redes sociais, em manifestações da rua em Amsterdam e noutros locais, a extrema-esquerda e os activistas de vários credos do clima, das verduras, dos animais e da bondade universal pedem alto e bom som nada menos que a morte – sim, o assassinato - de Thierry Baudet. Assustou-se alguém?
Johan van Oldenbarneveld, um político que tinha ousado desafiar o poder foi enforcado em 1584. Teve de se esperar até 2002, quando Pim Fortuyn também mostrou que teria de haver mudança, e de maneira estranha apareceu um assassino que o liquidou. A respeito de Thierry Baudet as autoridades e os colegas políticos aconselham-no a que seja prudente e não descure a sua segurança.
As próximas legislativas serão em Março de 2021 e até lá muita água vai correr.