A sabedoria aconselha a não ter
repentes, pensar duas vezes antes de agir, ser cauteloso no julgamento, não tomar as aparências por
realidade. Esse é o sermão com que nos aborrecem no começo da vida e depois
habituamos a ouvir calados, acenando que sim com a cabeça, os olhos postos no
interlocutor, temendo que de um momento para o outro a paciência se esgote, o
sorriso se torne escárnio e o que nos vai no íntimo se leia nas feições. Ouvimos,
mas não aprendemos, a vontade que dá é pisar o risco e esquecer as consequências,
depois se verá, tudo há-de correr bem.
A
irresponsabilidade de semelhante atitude espera-se de um adolescente, raro se
perdoa num adulto, assusta num povo quando se constata que o fatalismo parece
parte maior da sua essência, que usa os queixumes para esconder a realidade do
seu egoísmo de pobre e o descaso que tem pela res publica.
Olhado de longe ou de perto a visão
é a mesma: somos um país de queixas e melancolia.