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Conhecem-na dos livros, de ouvir falar, ou porque no funeral o caixão estava aberto e espantou-os o rosto emaciado do defunto, mas de verdade a Morte (sim, com maiúscula) para eles é uma abstracção, desagradável tema de conversa, recurso de poetas que fantasiam o orgástico último sopro dado nos braços do ente querido.
Nunca a viram de perto nem de frente, porque sabe-o quem lhe
sentiu a vizinhança, a Morte não tem
rosto, caveira ou foice, nem veste de preto.
É um curioso sentimento o que deixa quando se
aproxima, hesita a decidir e serenamente se afasta. Em duas ocasiões dei conta
da sua presença, e com verdade posso dizer que não me intimidou, antes pareceu
que tínhamos encontro marcado. Guardo a memória de nesse instante ser outra a medida
do tempo, eu próprio ter um duplo, existir em ambos e saber-me incapaz de
julgar ou oferecer oposição. Medo? De facto não senti, mas também não posso
assegurar quem eu nesse momento era.