(Clique)
Muito temos e muito nos falta, mas a nós, portugueses, dava jeito se fôssemos mais competentes no humor e mais refinados na arte do insulto.
Folheando de há dois séculos para cá, encontra-se aqui e
ali uma ou outra boa piada, um artista com bom desenho, mas são casos isolados
que não fazem escola nem se lhes descobre continuidade.
Em minha opinião a nossa capacidade para o humor é
modesta, mas nem isso é mau, nem deixa ferrete. Contentamo-nos em ser
engraçados de vez em quando, o que vai bem com a pacífica mediania da nossa
natureza.
No insulto, infelizmente, somos francamente maus. É à
sorna e entre dentes, ou à bruta, metendo de permeio as mães, a fixação anal,
mandando-nos para a mítica região do caralho ou à procura de excrementos, com
um "Vai à merda" que mesmo entre adolescentes soa a infantilidade.
Vem isto a propósito de uma conversa tida ontem, no
seguimento das trocas de insultos ocorrida entre os senhores deputados, num
ambiente que devia ser de respeito e decoro.
Recordou o meu interlocutor um caso da antiguidade. Invejoso
da fama de um general que tinha ganho batalhas na Gália e acabava de receber do
senado romano a coroa de louros, um irritado senador recordou ao militar a sua
condição de plebeu, enquanto ele, senador, provinha de uma nobre e secular
linhagem.
- Assim será – respondeu o general – mas a sua nobreza
acaba consigo, a minha começa em mim.