segunda-feira, dezembro 8

Finnegans Wake

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Um livro que me irrite? Um daqueles que sobe ao Top Ten do meu mau génio? Finnegan's Wake. Houve tempo, todos temos mocidade, em que julgava obrigatório ler Joyce. Sofri com o seu Ulysses. Demorou anos, muitos, mas lá consegui chegar ao fim.
Aquele tinha sido um osso duro de roer, mas o meu Inglês melhorara, eu tinha envelhecido, daria cachet arrotar postas de pescada, mostrando e provando que, compreendendo o que lia, me deitara ao Finnegan's Wake até à última página.
Tentei. Fiquei a meio da página 1. Pena perdida. Aquilo não é osso, nem ferro, nem coríndon (nr. 9 na escala de dureza de Mohs). Não dá para roer porque não é nada, é ar. E roer o ar é um exercício frustrante, sobretudo se à nossa volta um certo número de tontos garante que todas as noites se deita a ler Finnegan's Wake, e encontra nele um gozo superior
Desisti e fui-me às biografias do homem, sobretudo a de Richard Ellmann. Grande senhor. Ajudou-me a ajustar a pontaria e, para mim, lá se foi Joyce água abaixo. O próprio. Como pessoa irritante, mau sujeito, desagradável companhia mesmo sóbrio.
Os livros arrumei-os na estante, e se por curiosidade abro o Ulysses, agora dá-me para rir. O outro nem o abro. É ar.