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Um livro que me irrite? Um daqueles que sobe ao Top Ten do meu mau génio? Finnegan's Wake. Houve tempo, todos temos mocidade, em que julgava obrigatório ler Joyce. Sofri com o seu Ulysses. Demorou anos, muitos, mas lá consegui chegar ao fim.
Aquele tinha sido um osso duro de roer, mas o meu Inglês melhorara,
eu tinha envelhecido, daria cachet
arrotar postas de pescada, mostrando e provando que, compreendendo o que lia,
me deitara ao Finnegan's Wake até à
última página.
Tentei. Fiquei a meio da página 1. Pena perdida. Aquilo
não é osso, nem ferro, nem coríndon (nr. 9 na escala de dureza de Mohs). Não dá
para roer porque não é nada, é ar. E roer o ar é um exercício frustrante,
sobretudo se à nossa volta um certo número de tontos garante que todas as
noites se deita a ler Finnegan's Wake,
e encontra nele um gozo superior
Desisti e fui-me às biografias do homem, sobretudo a
de Richard Ellmann. Grande senhor. Ajudou-me a ajustar a pontaria e, para mim,
lá se foi Joyce água abaixo. O próprio. Como pessoa irritante, mau sujeito,
desagradável companhia mesmo sóbrio.
Os livros arrumei-os na estante, e se por curiosidade
abro o Ulysses, agora dá-me para rir. O
outro nem o abro. É ar.