Leio a biografia
de V.S.Naipaul, meu contemporâneo. Em Trinidad onde viu a luz, na
Inglaterra para onde foi, ou na Índia donde veio a sua gente,em nenhuma
dessas partes sentiu ou criou
raízes, a nenhuma quer pertencer. A fama e os proveitos que a
fama dá permitem-lhe viver num mundo apenas seu, aquele que com a sua
sensibilidade criou e que é apenas acessível aos eleitos.
No Portugal onde nasci, nas Franças e Araganças por onde
andei, na Holanda para onde me fui, em todas essas partes julguei pertencer.
Vi-me também cidadão do mundo e, num desvario romântico, subscrevi o dito de
Pessoa, «A minha pátria é a língua portuguesa.»
Pieguices e tolices. Leio, pois, a biografia de Naipaul, ao
mesmo tempo que me deito a rever ideias, a recordar momentos, a fazer
balanços. Aonde pertencerei? De verdade e por inteiro,
a parte nenhuma. A terra onde nasci tornou-se-me estranha como
um teatro, quando estou nela tenho a ideia de que represento um papel. A
outra, onde vivo há mais de meio século, dá-me por vezes a ideia de um navio
que se afasta e me deixou no cais.
Procurar outro poiso? Nem a idade mo permite nem as amarras
o deixariam. Porque é isso: não pertenço, mas é muito e forte o que me
prende