Importa pouco que tenha sido platónico e, se se pode dizer, «internético», facto é que com um amor que termina se vai também algo de nós. Finda a ilusão, esse potente motor dos sentimentos, finda a esperança, que nos dá alento para suportar o presente e sorrirmos aos amanhãs, mesmo sabendo que eles nunca serão os que sonhamos.
Todavia, devo dizer que compreendo mal que ela tenha dado tanto de si a um
desconhecido. Foi a sua inteligência vencida pelo sonho? Terá anestesiado a
sensibilidade? Medo talvez? O medo
de se ver a chegar aos quarenta sem amor, sem filhos, pária numa sociedade que
alimenta o mito da família feliz e sorridente?
Seja como for, não serei eu a dar-lhe conselho, pois a minha
sabedoria não tem ido de par com a idade. Tão-pouco ouvirá de mim
recriminações. E pedras ninguém lhe poderá atirar, a não ser
algum daqueles tolos que, incapazes de meter a mão no peito, garantem que nunca
erraram.