Duma maneira ou doutra abundam os que, mesmo descrentes, se vêem confrontados com fenómenos e situações inexplicáveis. Todavia, se alguns encolhem os ombros, não prestam atenção, nem perdem tempo e feitio a tentar compreender, outros há para quem tudo o que cheira a sobrenatural desencadeia um comportamento que os torna aborrecida companhia. Como os há também, que mudam de tal modo, que a hipótese de os encontrarmos assusta o bastante para, sem corar, fingir desculpas de que uma criança sentiria vergonha.
O Diogo ultrapassa essas categorias, e é tão grande a certeza do seu contacto com o sobrenatural, que são sem conta as mensagens que envia às universidades em redor do mundo, esperançado de que alguma, seja ela nos confins do Ceará, mostre interesse em investigar a veracidade do fenómeno, que sem aviso se manifesta, lhe transtorna o dia-a-dia, o equilíbrio mental, e o mantém num cansativo estado de alerta.
Sempre a mesma, a visão surge na forma de uma burguesa idosa, vestida à maneira dos finais do século dezanove, apoiada no que pode ser uma bengala ou um guarda-chuva fechado. A expressão do seu rosto é de maldade e a frieza desdenhosa de quem se sente superior.
Confessa ele que nesses momentos não se reconhece, deixa de ser o Diogo, tem consciência de viajar no tempo, ver-se transportado para o ambiente em que a idosa de má cara subitamente se materializa e lhe ordena que se ajoelhe. Sente-se então tomado de pânico, vê naquilo o prenúncio de uma tragédia e de olhos cerrados aguarda a pancada.
Essa não vem, nem ele tem a impressão de acordar de um pesadelo, mas não desiste da certeza de que o outro mundo existe e a velhota é a incarnação do Mal, pois por muito que inspeccionem os médicos não encontram explicação para os enormes galos que lhe aparecem na cabeça.