Sempre desejei saber desenhar, mas
nunca pude ir além de rabiscos iguais aos que traçam os miúdos no primeiro dia
de escola. Daí o ter procurado compensação na fotografia.
No decurso dos anos contam-se por milhares as fotografias que tirei, e uma ou
outra paisagem pareceu-me que não desmerecia, de meia dúzia de retratos também
não me envergonhava. Contudo, quando como hoje abro inadvertidamente um dos
meus álbuns, só posso abanar a cabeça em descrença. Que falta de talento e de
técnica. Que pena tanto dinheiro deitado fora.
Mas sonhar é de graça... Doisneau, Stieglitz, Bresson, Kudelka... e burro velho
não toma andadura. Há sempre um aparelho mais avançado, uma lente que realiza
milagres, um livro que promete o impossível: aprender o talento com que não se
nasceu.