segunda-feira, fevereiro 14

Soprar vento

 

Posso ser um misantropo que se ignora, mas de verdade sou pouco dado à convivência social. Não que me escasseie o interesse pelo semelhante e o gosto da conversa, mas desespero quando, passado o intróito dos bons modos, em vez de uma troca de impressões, ideias ou experiências, me vejo a soprar vento e a receber baforadas de banalidade.

Daí que pronto me fatiga o trato e acho conforto na solidão. Perco assim o ensejo de encontrar mais gente interessante e aprender o que não sei, mas feito o balanço tenho de concluir que, na vida que levo, a probabilidade de conversas excitantes iguala a sorte de encontrar no clássico palheiro a perdida agulha.

Há ainda o cansaço. Bom número de almas parece insensível ao facto de usar os argumentos com impacto igual ao do aríete nas guerras antigas, mais a agravante de que dominam a arte da fala sem pontos nem vírgulas.

Contudo, e isto dito, não são elas e eles que têm de mudar. Eu é que, mea culpa, devia aprender melhor  as andanças do mundo.