domingo, fevereiro 13

Eles andam por aí

 

É corrente e humano desejar melhorias, sonhar extravagâncias, ter uma ambição louca. Nada a censurar, desde que não seja ideia fixa ou perturbe a realidade do dia-a-dia. Infelizmente, nem todos resistimos aos cantos de sereia ou dispomos de travões que nos impeçam de descambar.

Assim, basta uma pequena cedência, e quando damos conta vamos já em queda livre, nula a possibilidade de remédio ou recuo. Entra-se então num estado de espírito que parece combinar a hipnose e a bebedeira, esfumam-se os obstáculos, desaparecem os impossíveis, basta querer e o sonho  realiza-se, está aberta a porta para o desvario.

Filho único, órfão de pai, mimado por mãe podre de rica, duas avós que se engalfinham a ver qual a que melhor o apaparica, o Rudolfo, a meio dos vinte, fora ter tirado a carta de ligeiros e terminado o secundário, pouco sabe do mundo e da vida, passa noites inteiras nas águas-furtadas, onde instalou “o observatório”.

Sintoma de loucura mansa, esse “observatório”, um amontoado de computadores, receptores, ecrãs, antenas e material indefinido, que compra levado pela cegueira de que a aparelhagem realize o que  sonha e dela espera: nada menos que ser o primeiro humano a receber sinais de vida extraterrestre.

Sucede agora, e conta-o ele entusiasmado, ter-lhe acontecido no Verão o mesmo que ao Ronaldo: foi comprar gravatas, “caiu” para a rapariga que o atendeu, não vai demorar a que Marilu deixe o estatuto de namorada, e se veja de aliança no dedo. Tanto mais que nem era preciso ele levá-la a visitar o “observatório”, pois além de sempre ter acreditado que há vida noutros mundos, está certa e segura de que se houvesse aparelhagem capaz de os detectar, se descobriria que algumas das pessoas que vemos na rua são extraerrestres. As autoridades sabem-no há muito, só não o revelam porque o Vaticano não deixa.