quarta-feira, fevereiro 9

A fama

 

É minha ideia que há pouco mais de meio século, contrariando as leis da Natureza, a fama tem vindo a rejuvenescer-se. A fama antiga cabia a uns velhotes que, duma ou doutra maneira, por arte, ciência, feitos ou sabedoria, tinham dado prova de se elevarem bastante acima do comum.

Depois, com uma rapidez que estonteia, a fama como que se avacalhou. Já não é apenas famoso o que se distingue por feitos de importância, mas qualquer badameco que se agita, urra, dá patadas, bebe demais ou tatua o rabo.

Se demorava anos, décadas, uma vida, a alcançar a fama, ela hoje é rápida, por vezes mesmo instantânea como o Nescafé. Ao puto que mal saído das fraldas dedilha uma guitarra no YouTube, cabe fama com que, por ambicioso que seja, nenhum cientista ou sábio se atreve a sonhar.

Quer isto dizer, e por má sorte não é apenas em questões de renome, que andam as coisas fora dos eixos. Hoje em dia, porque a solidez dos valores e das certezas iguala a da espuma, um pobre de espírito tem mais probabilidades de do dia para a noite se tornar famoso, que aquele que gasta anos a pintar um quadro, ou cega a procurar bichinhos com o microscópio.

Será um mal? Parece-me que não. Há mesmo certa lógica neste evoluir, pois seria estranho termos famosos como os de antigamente. Temos estes, e bem os merecemos.