Mas pensem os outros como quiserem e pareça eu azedo em comparação, a verdade que salta aos olhos é que não somente o jogo político em Portugal denota grande refinamento, como é inegável que os nossos políticos, por escasso que seja o seu preparo e duvidosos os diplomas com que alguns se enfeitam, manobram eles nas repartições, nos ministérios e na Assembleia da República com uma virtuosidade de ilusionistas.
Há quem zombe da sua falta de cultura e garanta que são poucos os que abrem um livro, mas suspeito que, bem ao contrário, os que dão nas vistas pela habilidade, se nunca ouviram falar de A Arte da Guerra de Sun Tzu, de O Príncipe de Maquiavel, ou os fecharam ao perceber que aquilo ultrapassava o seu entendimento, sabem de cor e salteado páginas inteiras de O Conde d’Abranhos, de Eça de Queirós. Porque não somente encontram aí os princípios imutáveis por que se guia a política nacional, como vêem confirmado que a estratégia que seguem lhes garante o sucesso:
‘O sistema da violência foi abandonado como inútil, e começou, com êxito, o dúctil método da habilidade… Em vez de bater uma forte patada no País, clamando com força: - Para aqui! Eu quero! – os governos democráticos conseguem tudo, com mais segurança própria e admiração da plebe, curvando a espinha e dizendo com doçura: - Por aqui, se fazem favor! Acreditem que é o bom caminho!... Tal é a tradição humana, doce, civilizada, hábil, que faz com que se possa tiranizar um País, com o aplauso do cidadão e em nome da Liberdade… Eu, que sou governo, fraco mas hábil, dou aparentemente a soberania ao povo, que é forte e simples. Mas, como a falta de educação o mantém na imbecilidade, e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito… E quanto ao seu proveito… adeus, ó compadre!’
Vêm aí as eleições e dói a certeza de que, embora fortes e simples, continuaremos indiferentes, moles, pasmados com a fantasia da roda dos cavalinhos, que gira sem sair do sítio.
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Só mais duas semanas para confirmar.