Que fizestes, homens e mulheres de quarenta cinquenta anos, vós que ao
nascer recebestes um país livre, renovado, sem censura nem perseguições, com
esperança e dinheiro como não se tinha visto desde D. João V? Que mudanças e
avanços podeis mostrar na Política, nas Artes, na Cultura? Que sentis se por
acaso vedes os deputados da vossa idade num debate do Parlamento? Que vos
parecem os feitos dos que chegaram a ministro? Que podeis mostrar do que aprendestes
e aproveitastes do Programa Erasmus? Por que razão não vos vejo inquietos, revoltados,
insubordinados, furiosos, descontentes, mas indiferentes e apáticos? Desinteressados,
olhando de lado para não ver, fazendo de conta, submetendo-vos ao que vos impõem
os manhosos e os habilidosos, os malabaristas que acham sempre pouca a esmola
mas não se envergonham de a receber, como se para um país a caridade possa ser um honroso modo
de vida.
Vós, homens e mulheres de quarenta anos e cinquenta anos, não vos podeis
queixar dos vossos pais nem dos vossos avós e pergunto-me que exemplo dais aos
vossos filhos. Julguei que vos veria diferentes mas ides pelo mesmo triste
caminho de submissão, de aceitação, de resmungos e maldizer, do queixume,
mantendes a fé na cunha e no jeito, dais ideia de que os direitos do cidadão não
são princípios fundamentais, mas palavras num papel e não vos dizem respeito.
Este desabafo é o que é: a egoísta e inútil tentativa de baixar uma pressão
que em mim vive e só a mim diz respeito, dolorosa porque sonhei um país melhor,
tive esperança de que o veria realizado e tudo me diz que foi esperança vã.