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É natural que num país de tagarelas, onde tanto se fala por falar, onde os políticos se especializam na versão parlamentar das melodias da gaita de foles, onde as charlas da televisão fazem concorrência aos soporíferos e a conversa de chacha é prato do dia, num país assim não se esperem polémicas. E de facto não as há, nunca as houve.
A polémica que merece esse nome é uma arte de saber e bom gosto, de elegância na exposição de raciocínios, exige fineza, graciosidade, ataques e contra-ataques céleres e refinados como os da esgrima do florete.
Será ocioso lembrar que, fora
as qualidades acima e outras mais, a polémica pressupõe respeito.
Mistérios do cérebro, ocorre-me este destrambelhado devaneio depois
de ter lido que, dentro das fronteiras, mas sobretudo fora delas, no Brasil, na
Venezuela, na África do Sul e mais, no que somos realmente bons é no retalho,
na mercearia, no comércio de secos e molhados.
É vergonha isso? Não. Antes
honra. Vergonha é o querer parecer, o arroto de postas de pescada, a ânsia de macaquear.