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Seria engano dizer que o assunto me tira o sono, e é fugidia a preocupação que me dá, mesmo assim ocupa-me mais do que desejaria, obrigando-me a balouçar entre extremos de piedade e raiva, de pasmo e aversão.
Por isso, porque não sei, porque o meu poder de cidadão é nulo e opiniões nada resolvem, é assim a modo de me dar alívio que alinho aqui uma amostra de factos. Absurdos ou contraditórios, impedem-me de pensar claro e nada contribuem para a minha paz de espírito como cidadão e ser humano.
- Afogaram-se setecentos, oitocentos,
ou mais; ninguém sabe, de nada adianta a conta.
- Ao verem o
porta-contentores que se aproximava, correram todos para o mesmo lado e o navio
virou. Salvaram-se vinte e nove? Trinta e dois? Quarenta? Importa a notícia a
alguém?
- Não há bilhete, mas a
passagem está longe de ser grátis. Conforme o estado do barco e a possibilidade
de chegar à Itália, o preço variava semanas atrás entre os sete mil e os doze
mil euros. É improvável que esteja ao alcance dos pobres. As crianças pagam "bilhete" inteiro.
- Até chegarem à Líbia, os
emigrantes que vêm dos países ao sul do Saará atravessam um sem-número de
controles de polícia e pagam de cada vez seis euros por pessoa.
- Na televisão italiana vejo
um deputado que, discursando no parlamento, enfatiza a absoluta necessidade dos imigrantes
ilegais para a prosperidade da agricultura.
- Vejo um político alemão
dizer o mesmo acerca da indústria.
- Vejo na televisão
holandesa um refugiado da Somália que trabalha clandestino numa plantação de
tomates na Calábria, e se queixa de só receber vinte euros e viver num casebre
que ele próprio construiu, enquanto o trabalhador italiano tem casa,
privilégios sociais e ganha cinquenta euros limpos.
- Dos cerca de cento e
cinquenta mil refugiados que chegaram à Itália desde o princípio do ano (passado ?), só de uns
cinquenta mil há registo, e a ninguém interessa saber dos restantes.
- Na televisão holandesa
uma jovem refugiada etíope, exprimindo-se num Inglês quase perfeito, mas raivosa
no modo e nas palavras, grita: "Nós temos direitos, exigimos habitação, um
modo de vida decente e possibilidade de estudar".
- Quando são legalizados,
os imigrantes na Dinamarca recebem casa e mobília, passando de imediato a gozar
todos os benefícios sociais, sem que para eles tenham contribuído.
- O mesmo sucede na
Holanda, com a particularidade de que um holandês tem de aguardar em média dez
anos antes que possa alugar casa num bairro social.
No meio disto tudo e tanta
miséria mais, desses desesperados e de nós todos, os senhores ministros da UE reúnem-se
pela enésima vez a discutir.