Amsterdam, ontem à tarde. Beethovenstraat. Rua chique. A senhora, chique também, entra com os filhos no eléctrico. Crianças irrequietas. A rapariga parece ter oito anos, o rapaz será um pouco mais novo. A mãe, fazendo boquinhas, ora os repreende em holandês, ora em inglês, impecável em ambas as línguas.
Minutos depois o eléctrico pára. Demora. Finalmente o condutor informa que mais adiante houve um acidente, e a linha está impedida.
Abrem-se as portas. A maioria dos passageiros sai. Os que vão para longe, como eu, esperam.
A senhora muda de lugar, senta-se defronte de mim e sorri. Sorrio também. As crianças acomodam-se entre nós.
- Em Julho, quando estivermos em New York – diz a mãe, momentos depois, num tom um nadinha exagerado – vamos visitar o senhor Gandolfini. Já vos contei que ele se mudou para New Jersey?
Os outros passageiros olham distraídos, como quem não ouviu, os filhos dão-se empurrões, ela encara-me com um sorriso que pede a minha reação.
- James Gandolfini? Tony Soprano?
- Sim! Sim! É nosso amigo!
Faço um aceno de apreço. Ela sorri, como que aliviada não sei de quê. De que alguém a acredita? De que se inventou uma amizade importante? De que de facto é amiga dos Sopranos e quer que o mundo o saiba?
O condutor anuncia que a linha está desimpedida. A campainha tilinta, as portas fecham-se, o eléctrico retoma o andamento.