Facto é que este blog, com tantos anos como um adolescente nascido em 2007, tem também um certo número de maneiras e caturrices que não destoarim num puto dessa idade. Mas o que nele muito conta, é que a coberto da ficção permite ao seu autor destravar aborrecimentos, sacudir raivas, reviver alegrias, e ainda, importante para o ensimesmado que o dito é, criar-se miragens de convivência, por vezes até de apreço, amizade, camaradagem.
Felizmente o travão funciona a tempo, a viola fica no saco
"Aconteceu-lhe o incrível. Não perde tempo nem gasta palavras, a surpresa como que lhe cortou o dom da fala e, ainda em choque, a memória tem dificuldade em recordar detalhes, garantir se a loucura foi assim, se foram aqueles os gestos, os olhares.
Sabe que falaram, mas ignora que palavras disseram, as que lhe ocorrem talvez tenham sido ditas antes, depois, ou noutra ocasião. Muito presente tem a visão do belo corpo a abandonar-se na dádiva, a ternura dos seios de menina, o cetim da pele jovem, o momento em que, cerrando os olhos como em transe, ela deixou descair a cabeça no travesseiro e sorriu.
Entregaram-se. Cederam. Deixaram-se ir no turbilhão de surpresas, como se os seus corpos finalmente descobrissem a febre de amar, a que de verdade queima e leva ao delírio, à perda dos sentidos, da consciência; a febre que destrói e liberta; a febre que pára o tempo, arrasa diferenças, deixa entrever a felicidade."
