quarta-feira, julho 20

É só verniz

 

Têm boas maneiras, são atentos, serviçais, capazes de inesperados gestos de simpatia, prontos na jovialidade e no abraço.
Mostram-se assim, e sem falha se aguentam, tão bons como o melhor actor com décadas de palco, ou a mais experimentada madame em bordel de luxo. Nenhum gesto de carinho ultrapassa o deles, mostram uma prontidão de relâmpago nas felicitações e nos pêsames, a boa nova mal corre e já batem à porta com o ramo de flores.
Ele e ela são desses. Quase perfeitos nos ademanes e nos movimentos da partitura social, ágeis no bailado das relações, malabaristas que nem de circo chinês, inexcedíveis no tiro ao alvo da simpatia.
Infelizmente, é só verniz, camada frágil que racha quando se lhes nega o favor ou a cumplicidade. Fica então a nu a sua verdadeira natureza: nas palavras de ódio e nos esgares descobrimos os trafulhas, os escravos, os cavalheiros de indústria, os aldrabões, os vigaristas, a canalha donde lhes vem o sangue. Formidável espectáculo.