À maneira do que tinham feito
Dickens para Londres e Zola para Paris, Tom Wolfe quis fazer a radiografia de
Nova Iorque com o romance The Bonfire of the Vanities (1987), e se não
alcançou fama igual aos seus velhos colegas, por certo teve mais proveito.
Nova Iorque, então com (apenas)
sete milhões de habitantes, forneceu-lhe um palco de tamanho razoável para o
enredo e a identificação dos personagens, mas para esse tipo de romance hoje em
dia mesmo Nova Iorque já é grande demais, e o gigantismo de metrópoles como
Tóquio, São Paulo, a Cidade do México, Mumbai, serve melhor para o cinema e a
televisão.
Daí a minha ideia de que os
nossos jovens escritores deveriam correr a aproveitar a mina de ouro que têm à
mão, a que Eça de Queirós abriu século e meio atrás com Os Maias e A
Capital, e desde então se encontra ao abandono, sem concessionário que a
reclame.
A mina que Lisboa é desde o 25
de Abril até aos escândalos dos Sócrates, dos Varas, dos Pinhos e mais
trafulhas, com as suas “elites”, os seus advogados, as “famílias”, a clássica
pelintrice, está a pedir com urgência que alguém pegue na picareta e comece a
excavar.
No excerpto da introdução que
Tom Wolfe escreveu para The Bonfire of the Vanities fala ele do receio
que os jovens escritores sentem de não encontrarem material. Receio infundado
para os portugueses, pois há material de sobra.
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