Custa confessá-lo, mas não vejo outro remédio: tenho
por mim que cada vez escrevo duma maneira e com um vocabulário que pouco a
pouco se vai afastando do Português corrente, e o mesmo acontece nas conversas,
pois há ocasiões em que o interlocutor me olha como se não compreendesse o que
digo, ou sou eu que o encaro perplexo, ao ouvir uma frase onde os modernismos e
o americanês se atropelam e me deixam embasbacado.
A leitura dos jornais, essa faço-a agora ao jeito de
uma corrida de obstáculos, tantas são as vezes que tenho de parar para
compreender o que lá está, ou surpreso de que sem castigo seja permitido escrever
usando um vocabulário e uma sintaxe que em tempos – longínquos, bem sei – não se
perdoariam a um miúdo na primária.
De modo que com alguma pena me irei lentamente
despedindo, porque desde que aprendi a ler e a escrever fui maníaco em querer
apurar o uso da língua pátria, estudei-a quanto pude, continuo a maravilhar-me
com a sua musicalidade, o seu ritmo, os matizes sem fim, a riqueza do vocabulário,
aquela sonoridade que só nela conheço.
Mas nada de queixas. Os tempos mudam, com eles mudam
também os desejos, os sonhos, as exigências, as necessidades, os sentimentos, e
se tenho pena de que cada vez me custe mais compreender os meus compatriotas, o
problema não é deles, é meu, enquanto por cá andar.