Falar de certas passagens da vida pode satisfazer a
curiosidade alheia, mas verdadeiro proveito só tem o de dar algum alívio.
Calhou-me o bizarro destino de depois de quarenta anos
a ser lido e estimado em terra estranha, a pátria descobriu em simultâneo a
minha prosa e a minha existência, durante uma curta década não me faltaram
agrados, cumprimentos, homenagens, atenções, e até prémios recebi.
Calhou-me também ser apaparicado, que muito boa
gente se desse ao trabalho de me procurar e jurar simpatia, amizade, admiração,
embora eu, por não pertencer à tribo, ignorar os rituais e ter ganho outros
hábitos na estranja, caísse no engodo, tomando por moeda de lei o que era
pechisbeque.
Essa armadilha em que me deixei cair foi de pouca dura, quando o descobri comecei a manter
distância entre mim e os bajuladores, separando o trigo do joio, dando a
conhecer as minhas opiniões sobre a política e a sociedade, assustando a boa
gente ao tornar público as razões por que na Holanda tinha votado num partido da
Direita, cuspindo-me alguns por me ter “vendido” ao “abjecto” Correio da
Manhã.
Por essas razões e mais algumas deu-se o bom povo
conta que não sou nem virei a ser aquela figura de escritor e pessoa pública
que faz jeito ter como íntimo, à maneira de troféu de caça. Como deixaram de me
procurar e não me verão em feiras, festejos, conferência ou congressos, nem têm de mim provas de amizade
ou intimidade que possam badalar, estamos todos em santa paz: eles no seu mundo, eu neste meu canto, onde me procura
quem quer.
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PS. Se o Manuel Jorge Marmelo passar por aqui agradeço que me contacte.
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PS. Se o Manuel Jorge Marmelo passar por aqui agradeço que me contacte.