segunda-feira, janeiro 9

E se Donald Trump acertar?

O ano que passou foi um encadear de guerras, atentados, desgraças à escala bíblica, dando motivo de sobra para nos perguntarmos que tragédias nos esperam. Todavia, é quando as notícias são más e as previsões desfavoráveis, que mais razão temos para nos agarrarmos a tudo o que traga uma réstia de esperança, pois bem pode ser que no que nos espera não haja apenas negrume, e se distinga também alguma claridade.
A eleição de Donald Trump foi a grande surpresa, dado que talvez mesmo aos que nele votaram tenha custado a acreditar que a vitória fosse possível. Mas foi, razão porque, guardando uma avisada desconfiança, se possa  tirar daí algum optimismo, pois mesmo que o presidente Trump nem de longe cumpra as promessas feitas - a bazófia e o acenar com melhorias são inerentes à política – a força das circunstâncias, de par com o sentido realista  de homem de negócios, por certo o levarão a aproximar-se da Rússia.
E o mais provável é que Putin o receba de braços abertos, dado que o seu grande país não pode resistir indefinidamente ao gasto colossal a que obriga a manutenção do aparato bélico, às consequências do baixo preço do petróleo e às sanções do Ocidente. Nessa eventualidade pode bem acontecer que se repita a détente dos anos 80, quando o presidente Reagan estendeu a mão a Gorbachev.
Os políticos que governam a UE serão os primeiros a desconfiar da inesperada amizade, mas não dispõem de meios (os EUA financiam 80% da NATO) para impedir um eventual avanço da influência da Rússia no  Báltico. Por outro lado, se a UE se comprometer a acarinhar menos a Ucrânia, talvez Putin prometa deixar em paz os Balcãs, e se acabe com a astronómica despesa que é o apontar de canhões de um e do outro lado das fronteiras.
Contudo, nem por isso serão menos os motivos de inquietação, já que a derrota do Estado Islâmico vai provavelmente resultar em vagas de terrorismo que nos podem trazer a barbárie a que assistimos na Síria. E para mal de muitos, se não de todos, basta que um bando de fanáticos realize um atentado espectacular  antes das eleições, e Marine Le Pen poderá finalmente realizar o sonho de ser a primeira mulher a tornar-se presidente da França.
Segundo alguns analistas que têm mostrado autoridade, o desassossego que uma vitória da madame provocará na Alemanha, de par com o desejo que esta não esconde de se descartar das economias mais fracas, será o golpe de misericórdia para a união monetária.
Porém, se tal acontecer, "talvez surja então a eurozona a que muitos aspiram: de menores dimensões, mas uma em que os acordos sejam respeitados. E com esse alicerce a Europa poderá reencontrar a força que lhe vem da sua diversidade."
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Publicado na CM Domingo.