(Clique)
A vida ensinou-me a ser cauteloso em matéria de
certezas, sobretudo quando apregoadas pelos que, inchados da própria
competência, não hesitam em afirmar como se endireita a política e se governa
um país. Aliás, acerca de políticos, apenas dois continuam a
merecer o meu respeito: o presidente Truman, que tinha na secretária uma placa com a frase: The buck stops here ( A responsabilidade
é minha); e Pierre Mendès-France , " uma referência, e símbolo de uma
concepção exigente da política".
Temos agora o presidente Trump, que assanha atrizes,
costureiros, activistas, e bem pensantes, ao mesmo tempo que uma massa de
"seres desprezíveis" espera vê-lo endireitar o que outros deixaram
torto.
No que me respeita, o personagem não desperta simpatia,
mas devo conceder que o modo directo e a sua rudeza fazem um interessante
contraste com a banalidade das afirmações dos políticos em geral, sejam eles
estadistas, bonzos da EU, ou os moços de recados que chefiam ministérios.
De qualquer modo, e porque muitas das suas decisões a
todos afectarão, vou seguindo as críticas que uns lhe fazem e as esperanças que
outros nele põem, cuidando de não me deixar arrastar pelos argumentos dos que
lhe são favoráveis, nem pela histeria dos oponentes.
Dei assim com uma entrevista de Edward Luttwak (1942),
que foi consultar de Reagan e é agora assessor de Trump. Está longe de ser um comentador
qualquer, pois os governos da China, Israel, Itália, Japão e várias
multinacionais são clientes da sua consultoria. E concorde-se ou não, fala
claro:
“Quando os media se referem a Trump é sempre questão
de sentimentos de vingança e ódio, o que demonstra apenas arrogância
intelectual. Do que realmente se trata é da redistribuição dos rendimentos,
pois nos últimos vinte e cinco anos a deslocação da prosperidade da classe
trabalhadora para outras classes, resultou numa mudança estrutural na sociedade
americana. Um exemplo: a classe média exige carros muito seguros, o que obriga
a satisfazer tantas regras que o preço médio de um novo é de 13.000 dólares. Metade
dos americanos não podem pagar esse dinheiro, têm de conduzir carros em segunda
ou terceira mão, e daí menos seguros. É como se para quem possui menos a
segurança não conte.”
“O meio ambiente? Claro que somos todos a favor. Mas
subsidiam-se os cientistas e as indústrias da energia solar e eólica, e fecham-se
as minas de carvão, atirando dezenas de milhar de pessoas para o desemprego.
Será então estranho que elas se revoltem?”
Se é demagogia, o tempo o dirá.
….
Publicado na DOMINGO CM.