(Clique)
Na solidão da noite, cigarro após cigarro, Mónica salta na internet dum para outro site,
imaginando como por detrás do ecrã são milhões os mundos, milhares de milhões
as ansiedades, as esperanças, as vontades de amar, os medos de perder, sofrer, destruir,
tantos os desejos como as impotências, talvez mais as desigualdades do que as
harmonias.
Olha com desprendimento, nada que a anime
ou interesse, retendo uma palavra, um rosto, compassos de música, demorando
três segundos numa paisagem, na miséria colorida e espectacular de bombas que
explodem, gritos, sangue, gente a correr.
Festejos. Ciclones. Inundações na Alemanha.
Ouve-o tossir no quarto. Dá-se conta de que
passa das três. Vai à janela e olha a rua, na expectativa que algo aconteça.
Param carros no semáforo. Já não chove. Há janelas iluminadas no prédio
fronteiro. Sete. Conta de novo. Sete. Olha como se estranhasse estar ali e
desliga o computador, apaga a luz.
Decidiu que irá deixá-lo. Acende outro
cigarro, hesitando se o acorda e lho diz agora, ou ao pequeno-almoço.
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Publicado no CM.