domingo, junho 12

Transmontana

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É transmontana, anónima, de certeza escreve poesia, de vez em quando manda-me a sua prosa:


"Por favor, não diga a ninguém: ando a arrebanhar cisquinhos de junho e a escondê-los, bem escondidinhos, num guardanapo de linho que trago no bolso. Falta-me o gorjeio da passarada, o estalejar das silvas no carreiro de cabras, o bafo quente da terra despida pelas segadas. Ainda não guardei a doçura espessa e macerada dos pêssegos  e as empoeiradas amoras bravias , humildes damas com as framboesas e as groselhas da frescura dos passeios ao entardecer. Ainda vai junho menino mas já mingado está por mim. Uns dez minutos agora, outros cinco depois e  a ampulheta mais solta. Até agora, ninguém topou. Tenho um niquinho de zumbido rasteiro, cigarras, formigas atarefadas, libelinhas, grilos, sapos, rãs a coaxar. Pus brincos de princesa de cerejas vivas de sangue, rubis a escorrer entre os dedos.
Vou  pedir a Santo Agostinho paciência para me aguentar até uma névoa húmida, gelada e de um pálido dezembro fazer junho brincalhão, gaiato, radioso, liberto da minha rodilha ensolarada, baú de dias que não são do tempo comum.
Ainda me falta uma lagartixa, uma daquelas que, furtivas e fugidias, se esgueiram entre as pedras soltas dos muros das caminhadas de junho. Quer ser meu cúmplice, meu senhor? Vamos apanhar lagartixas para em dezembro fazer junho?"