Primeiro à entrada, depois no rés-do-chão, tinha já dado tantas voltas no hospital que se me fora a paciência e começava a ourar. A amiga, mulher de “peso”, relacionada com uma mirabolante diversidade de gentes, talvez ajudasse a resolver o caso. Telefonei-lhe. Recomendou ela o maqueiro X ou o segurança F. Perguntei-me se tínhamos falado do mesmo assunto ou se eu alucinava.
Retornei ao cubículo. O senhor simpático, de novo a folhear o caderno e separando lentamente as sílabas, repetiu que não havia nada a fazer. Eu não tinha o cartão de seguro europeu, um papelinho que todo o que habita no estrangeiro tem de ter, e sem ele...
Que lhe mostrasse os cartões das seguradoras que me seguram de tudo, e custam os olhos da cara, não o demovia. Era pagar cento e seis euros, mais a taxa de quatro euros e dez, ou não haveria consulta.
Paguei. Chamaram o meu nome. Num cubículo uma senhora simpática disse:
- Entre por ali. É o espanhol.
À minha frente, sem me ter encarado, caminhava um corpo trintão com postura de lutador de feira. Esse corpo afastou a cortina dum cubículo e, sem se voltar, gritou-me jovial:
- Senta, José!
Quase se me foi o fôlego.
- Diga-me uma coisa, você é médico?
Era médico. O que se seguiu fica para quando se fizer a telenovela do hospital.